Está de regresso o Natal! De entre as várias tradições natalícias, a preparação do presépio, recriando o ambiente familiar do nascimento de Jesus, tem este ano um significado ainda mais especial. Faz-nos retornar a Belém, faz-nos regressar à cidade onde Jesus nasceu, trazendo consigo uma mensagem de paz para “todos os Homens de boa vontade”. Porém faz-nos também recordar que, paradoxalmente (ou talvez não), Belém é hoje uma cidade circundada pelo Muro de separação da Cisjordânia, que separa os territórios palestinos do Estado de Israel. Belém é hoje uma cidade onde a guerra se faz sentir quotidianamente.
Apetece perguntar: onde estão os Homens e Mulheres de boa vontade? Seremos nós capazes de escutar verdadeiramente as canções de Natal, de acolher a paz, de estar disponíveis para o que a paz exige a cada um de nós? Seremos nós dos tais que, tal como no tempo de Jesus, disseram não ter condições para acolher a família de José e Maria? Seremos nós dos que nos mantemos indiferentes, com o tempo demasiado ocupado, envolvidos num frenesim distraído que não nos deixa espaço para acolher os outros? Ou seremos nós pastores atentos e generosos para com quem necessita? É verdade que são perguntas que não têm uma resposta simples. Mas não é por isso que devemos deixar de as colocar, de as fazer chegar ao coração e, quem sabe, talvez nos façam decidir fazer algo de novo por outros, quem sabe um renovado gesto de delicadeza para com aqueles que alguma vez descurámos.
Na realidade, embora o Natal seja sobretudo um tempo de festa, de celebração e de convívio familiar é, simultaneamente, um tempo privilegiado para nos questionarmos e procurarmos, de forma honesta, silenciosa, sem filtros, perspetivar respostas e tomar decisões. É tempo de voltar ao presépio. É o lugar da serenidade e da essencialidade. Aqui tudo se concentra no que é indispensável para viver, desde os panos que envolvem e aquecem o menino, ao alento quente dos animais, ao acolhimento familiar e ternurento dos pastores e à admiração dos reis magos que, sendo grandes, se sabem maravilhar com a grandeza das coisas simples.
Voltemos, por isso, a Belém! Ao essencial da vida, mesmo que perturbada pela incoerência da realidade humana. Comecemos pelas questões estratégicas, pelo negócio, pela empresa, até chegarmos às mais pessoais que nos incomodam e podem chegar a fazer doer. Para facilitar, aqui fica uma “folha de preparação” com 5 decisões a tomar, bem ao jeito da metodologia do caso que os Alumni da AESE tão bem conhecem. Desta vez, o caso chama-se “Voltar a Belém!” e o protagonista é cada um de nós.
Nos últimos anos, em especial em 2023, as novas tecnologias, os modelos empresariais emergentes, as exigências sociais e as diferentes formas de trabalhar foram temas muito debatidos, mas, sobretudo, presentes e genuinamente inquietantes para quem pretende equacionar e construir o futuro.
- Inteligência Artificial
Neste momento, já todos tomaram consciência do potencial da IA, e também dos seus potenciais problemas. 2024 será o ano em que a IA terá um crescimento exponencial e começará a fazer uma verdadeira diferença em todos os setores e empresas. Quanto vai investir em IA e até onde vai o seu compromisso? - Sustentabilidade
Alguns critérios de sustentabilidade, bem como políticas ambientais, sociais e de governo começam a estar presentes nos planos estratégicos de muitas empresas. Já considerou como estes fatores podem afetá-lo no futuro? Que compromisso está disposto a assumir em 2024? - Novos Modelos de Trabalho
Há quem vaticine que 2024 será o ano do grande retorno ao escritório. Talvez sim. Mas a verdade é que o trabalho remoto veio para ficar e o trabalho híbrido, com alguns dias no escritório e outros em casa, será a norma em muitas empresas. Em 2024, qual o seu compromisso com a criação de um ambiente de trabalho, centrado no desenvolvimento e valorização das suas pessoas, a par da exigência de desempenho e respetivos resultados e da criação de uma comunidade sustentada numa cultura comum, justa e inclusiva? - Evolução do negócio
O aparecimento de modelos de negócio disruptivos e inovadores tem sido constante, inspirados pelo mundo de oportunidades ainda por desbravar. Muitas vezes, dada a novidade do modelo, é impossível fundamentar o desenvolvimento futuro do negócio, correndo o perigo de se criarem expectativas irrealistas. Contudo, tal facto não pode paralisar a construção de uma visão ambiciosa e inovadora do futuro. Em 2024, que expectativas tem quanto à evolução do seu negócio? Que se propõe fazer para se preparar e para adaptar a empresa para essa evolução? - E pessoalmente:
Neste âmbito, sugiro revisitar as 3 questões que Clay Christensen colocava aos seus alunos em Harvard, no final de cada ano e que, segundo o próprio, todos precisam de fazer de vez em quando: Como posso ser feliz na minha carreira profissional? Como posso ter a certeza de que a minha relação com a minha família é uma fonte duradoura de felicidade? E como posso viver a minha vida com integridade?
E acrescentava duas notas orientadoras. Em primeiro lugar, recordava que a teoria de Frederick Herzberg abre uma grande perspetiva sobre a primeira questão ao afirmar que o poderoso motivador nas nossas vidas não é o dinheiro; mas a oportunidade de aprender, crescer em responsabilidades, contribuir para os outros e ser reconhecido pelo que se atinge. Numa segunda nota alertava para que a decisão sobre como alocamos o nosso tempo, energia e talento pessoais vai, aos poucos, moldando a nossa estratégia de vida, ou seja: se ambiciono ter uma boa relação em casal, criar ótimos filhos, contribuir para a minha comunidade, ter sucesso profissionalmente, colaborar em iniciativas sociais, tenho de pensar quanto dedico, quanto me entrego a cada uma dessas atividades?
E aqui fica a sugestão para o trabalho individual, com a promessa da discussão do caso “Voltar a Belém” no próximo artigo, já em 2024.
Por falar em voltar a Belém, recordo o momento tão significativo que foi a entrada solene em Belém de Frei Francesco Patton, Custódio da Terra Santa, por ocasião do início do Advento (período de preparação para o Natal, no calendário católico), como é tradição. Devido à situação de guerra, não teve a multidão de peregrinos e turistas que costumam acompanhar o cortejo, mas não deixou de ter muitas crianças das escolas de Belém a saudá-lo, com alegria. Há gestos e tradições que nos dão identidade e que, independentemente das circunstâncias, vale a pena realizar. Este ano, o gesto de ir de Jerusalém até Belém, atravessando o muro de separação foi imensamente marcante. Faz-nos acreditar que nenhum muro é intransponível! Assim seja!
A todos, um Santo Natal!
Envie as suas respostas às perguntas para fatimacarioca@aese.pt
Artigo publicado no Jornal de Negócios
O ano da desética
Pedro Alvito
Professor da Área Académica de Política de Empresa e Diretor do Short Program Construir o Futuro nas Empresas Familiares
Navega o futuro, ontem
Eurico Nobre
Professor de Política Comercial e Marketing da AESE Business School
Operações, tecnologia e inovação: sinais do(s) tempo(s)
Nuno Biga
Professor de Operações na AESE Business School