”O sucesso não se pode comprar, aluga-se. E a renda é devida todos os dias.”
A frase, apesar de tantas vezes repetida, não se esgota na sua pertinência e atualidade. A capacidade de empresas e profissionais em se adaptarem e o seu compromisso em agir são tão críticos hoje, como amanhã. Quem poderia imaginar o impacto que teve o ChatGPT, e todos os seus semelhantes e derivados que se vão seguindo, quando foi lançado, apenas em Novembro de 2022? Doze meses depois a Generative AI está em todo o lado, de uma forma surpreendentemente visível, com tremendo impacto na simplificação de processos e na melhoria da tomada de decisões e um potencial quase imprevisível. Seguramente maior que aquele que teve a Internet, os Social Media ou o Mobile. Acrescente-se a acelerada adoção da tecnologia 5G, que está a inaugurar uma nova era de conectividade, abrindo portas a todo um mundo de novas, mais ricas e envolventes experiências, nomeadamente pela integração de tecnologias emergentes. Ou a aplicação de blockchain para maior transparência e rastreabilidade nas cadeias de abastecimento, como forma de resposta a consumidores cada vez mais exigentes sobre a origens dos produtos.
E o tempo? Sim, o tempo. O nosso bem mais escasso, que anos de pandemia elevaram como nunca a prioridade. Do simples serviço de entrega de comida em casa, poupando deslocações ou horas na cozinha, às cada vez mais inovadoras soluções tecnológicas que fazem convergir compras online e offline, como a realidade aumentada, ao serviço de uma experiência de compra mais envolvente, igualmente mais conveniente e hiperpersonalizada. O que também fez deste um ano em que se multiplicou a consciência da vantagem competitiva que é para as empresas investir em soluções que permitam gerir os seus próprios dados, não os delegando a terceiros, de forma a oferecem conteúdos direcionados e experiências adaptadas às preferências dos seus clientes.
Poderia acrescentar-se a importância crescente dos micro e nanoinfluenciadores, por comparação com as celebridades, que se destacam pela sua maior autenticidade, ou as múltiplas experiências em realidades paralelas e virtuais oferecidas pelo Metaverso.
O ritmo não abrandou em 2023. Nem vai abrandar. Contudo, neste mundo cada vez mais Hi Tech, importa não esquecer que há sempre alguém do outro lado do ecrã. Colaboradores cada vez mais exigentes, para quem uma vida equilibrada entre as dimensões pessoal e profissional não são uma opção. Consumidores muito mais conscientes e interventivos, que se manifestam à porta de multinacionais por continuarem a operar na Rússia. Ou que votam, todos os dias, com os seus euros, em favor de empresas, produtos e serviços que demonstrem compromisso com a responsabilidade social, a gestão ambiental ou práticas éticas.
Muito mudou. Muito continuará a mudar. Mas, no essencial, está e ficará tudo na mesma. A renda diária do sucesso pode exigir maior rapidez, mais inovação, crescente disrupção, mas paga-se da mesma forma com que sempre a pagou o senhor da mercearia, o talhante da esquina ou o padeiro do bairro. Com um sorriso de um cliente satisfeito e de um colaborador comprometido. Porque esses, esses não têm preço. Todas as empresas querem ser as melhoras no que fazem. E se ambicionassem antes serem as preferidas, porque motivam um sentido de pertença, porque respeitam, porque integram, e por isso são admiradas?
Voltar a Belém
Maria de Fátima Carioca
Professora de Fator Humano na Organização e Dean da AESE Business School
O ano da desética
Pedro Alvito
Professor da Área Académica de Política de Empresa e Diretor do Short Program Construir o Futuro nas Empresas Familiares
Operações, tecnologia e inovação: sinais do(s) tempo(s)
Nuno Biga
Professor de Operações na AESE Business School