AESE insight #34 - AESE Business School - Formação de Executivos

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AESE insight #34 > Thinking ahead

Crescer, crescer, até ao infinito e mais além.

Mário Porfírio

Professor de Política Comercial e Marketing

Parece frase de filme de animação e em parte é, mas também é o conceito em que assenta a visão dominante no mercado das tecnológicas de Silicon Valley e de outros ecossistemas de empreendedorismo mundiais onde se inclui Portugal, crescer, crescer, até ao infinito e mais além.

Com o sonho de se transformarem num lindo unicórnio, novamente uma frase retirada de um filme de animação, milhões de empresas nascem e morrem em todo o mundo, seguindo a mesma receita “disrupção de mercado, angariar o máximo capital possível, crescer (investir) o mais rápido possível para liderar o mercado”.

Publicado na edição de março/abril de 2020 da Harvard Business Review (HBR), o artigo Beyond Silicon Valley, do professor Alex Lazarow, aborda uma visão alternativa a esta filosofia de investimentos elevados e crescimento rápido. Numa volta ao mundo por várias startups de sucesso, fora dos maiores hubs do empreendedorismo, muitas em países em desenvolvimento, o professor Lazarow identifica três dimensões que permitem a estas empresas fazer face aos seus desafios de sobrevivência e sustentabilidade, nomeadamente:

  • abordagem balanceada do crescimento;
  • soluções para a resolução de problemas reais;
  • e investimento em equipas a longo prazo.


Numa abordagem balanceada do crescimento, o cuidado com os investimentos aumenta e são menos frequentes estratégias de aquisição de clientes baseadas em ofertas e produtos freemium, com reduzidas taxas de conversão para clientes pagos e muito dependentes de investimento elevado e recorrente para alcançar uma escala sustentável. Os modelos de negócio assentam em serviços que os clientes valorizam, soluções para a resolução de problemas reais, sendo natural que os clientes paguem o valor do produto ou serviço e que caso não tenham capital suficiente, se desenvolvam soluções para financiar a compra. Os empreendedores têm uma filosofia de gestão e compromisso com a empresa de médio e longo prazo que se traduz num investimento em equipas a longo prazo. O foco é crescimento e rentabilidade, por contraponto da filosofia de vida ou morte do modelo de crescimento rápido de conquista do mercado. E novamente é a escassez de recursos o motor, que leva estas startups de sucesso a recrutar globalmente, investir na formação das suas equipas e a promover estratégias de retenção de talento.

Mas então e os unicórnios?
O título do artigo online publicado em outubro de 2020 no site da HBR pelo professor Lazarow é bastante claro:  Startups, is time to think like Camels — Not Unicorns.

De forma simples, “os camelos sobrevivem em autonomia por longos períodos, resistem a altas temperaturas e adaptam-se a variações extremas de clima.” e acrescento, ao contrário dos unicórnios, são reais.

Para além do crescimento balanceado e da perspectiva de longo prazo, a startup Camelo considera a diversificação no seu modelo de negócio, algo impensável na dialética do ecossistema atual das startups e da visão de disrupção e especialização num mínimo produto viável.

A justificação para esta diversificação vem da necessidade de escala e da escassez local de recursos e clientes. Para sobreviver, têm de entrar em novos mercados, num esforço de aprendizagem e adaptação constante. Desenvolver estruturas próprias de suporte, dando origem a um ecossistema auto-sustentável de produtos e serviços, ou seja, novas empresas. Claro está que o equilíbrio entre a especialização e diversificação é fundamental para que não existam demasiadas frentes, desfoque e destruição de valor, mas para isso está lá o empreendedor ou para este modelo será melhor chamar-lhe empresário?

Concordando com o professor Lazarow, construir uma empresa é um empreendimento de longo prazo, não interessa quem chega primeiro ao mercado mas quem sobrevive por mais tempo.

Estaremos a promover a criação de startups camelo em Portugal?

Fica o convite para a reflexão e para a leitura dos dois artigos.

E/ou em alternativa:

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