AESE insight #37 - AESE Business School - Formação de Executivos

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AESE insight #37 > Thinking ahead

Globalização 4.0

Luís Cabral

Professor de Economia na NYU Stern, USA e na AESE

Terá a pandemia travado a globalização? Ou, pelo contrário, veio acelerar a sua versão mais recente? A que tem a ver com o movimento da informação e com atividades económicas não-espaciais

Vários analistas têm notado o ‘travão’ que a pandemia em curso representou no processo de globalização. Por exemplo, o meu colega Steven Altman escreveu recentemente que “a pandemia causou o maior e mais rápido declínio nos fluxos internacionais da história moderna, incluindo decréscimo nos níveis de comércio, investimento estrangeiro e transporte”.

Para compreender o futuro da globalização é preciso compreender o passado da globalização, o que tentarei nos parágrafos que seguem. É útil considerar os períodos que vão desde a globalização 1.0 até à globalização 4.0. Trata-se de uma divisão algo arbitrária, mas é uma divisão que me parece útil.

A globalização 1.0 corresponde aos Descobrimentos. Sem prejuízo do Marco Polo e outros pioneiros, até ao século XV o mundo divide-se em blocos relativamente estanques. Colombo, Gama, e os outros navegadores ibéricos fazem a ligação entre esses blocos. Do ponto de vista económico, esta fase da globalização limita-se a produtos raros e de luxo (ouro, pimenta, etc.).

A globalização 2.0 corresponde à Revolução Industrial. Relativamente à era anterior, o que a distingue é a massificação da produção e transporte de mercadorias. Pela primeira vez na história, encontramos de forma sistemática empresas, cidades e países cuja produção é principalmente exportada.

Antes de chegar à versão 3.0, devemos mencionar o estádio intermédio da globalização 2.5, que se caracteriza pela expansão internacional das empresas: a emergência da empresa multinacional. Isto por sua vez implicou a extensão da globalização ao movimento de capital, serviços, etc. Em certo sentido, a evolução de 2.0 para 2.5 reflecte a expansão do sector terciário (serviços) na economia mundial.

Graças ao Zoom e a outras tecnologias, em 2020 dei mais conferências internacionais e com maior número de assistentes do que em qualquer ano no passado

Se a globalização 2.0 (e 2.5) se caracterizam principalmente pela distinção entre local de produção e local de consumo, a globalização 3.0 caracteriza-se principalmente pela distinção entre local de produção e local de gestão do processo. Isto é mais difícil de compreender, pelo que o exemplo do iPhone talvez ajude. Segundo muitas medidas tradicionais, grande parte do valor do iPhone é criado na China. No entanto, a indicação que encontramos no produto final é “concebido nos EUA, montado na China”. É como se o iPhone fosse ‘feito’ por pessoas que vivem na Califórnia e estão ligadas por Zoom a vários pontos do globo. A localização física de cada tarefa é uma questão de pormenor: o controlo efectivo sobre todos os passos encontra-se nos gestores americanos. Exagero um pouco, mas não muito.

Chegamos assim ao século XXI. De um ponto de vista económico, o acontecimento mais importante das últimas décadas é indiscutivelmente a revolução digital em curso. Os diferentes aspectos desta revolução (computação, internet, inteligência artificial, etc.) merecem um artigo separado, que fica aqui prometido.
No que respeita à globalização, chegamos ao limiar da versão 4.0, que se caracterizará principalmente pelo movimento de ‘informação’, sendo grande parte da actividade económica não-espacial. Isto pode fazer confusão: quando pensamos em economia pensamos em fazer ‘coisas’, e as coisas têm peso e volume, ocupam espaço. No entanto, uma fracção cada vez maior da actividade económica corresponde a serviços, e, graças à revolução digital, muitos desses serviços correspondem ao fornecimento de informação, informação codificada em bits e bytes.

Um exemplo paradigmático da fase 4.0 é a telemedicina: não só a consulta em Zoom, que se vai tornando cada vez mais comum, mas também processos mais complicados como a cirurgia à distância, em que o corpo do paciente é cortado por robôs comandados por uma equipa médica localizada noutro local — ou, possivelmente, noutros locais.

Neste contexto, qual o impacto da pandemia no processo de globalização? Segundo uma leitura mais tradicional (como a da frase de Altman no primeiro parágrafo), 2020 foi um ano de retrocesso no processo de globalização. No entanto, segundo uma leitura alternativa, a pandemia foi um enorme empurrão na direcção da globalização 4.0. Se me permitem um exemplo pessoal: nos anos anteriores à pandemia, ‘coleccionava’ entre 50 e 100 mil milhas por ano de transporte aéreo com a United Airlines. Por motivos óbvios, em 2020 esse número foi próximo de zero. Segundo as medidas de Altman, temos aqui um enorme retrocesso no processo de globalização. No entanto, graças ao Zoom e a outras tecnologias, em 2020 dei mais conferências internacionais e com maior número de assistentes do que em qualquer ano no passado. Em certo sentido, 2020 foi um enorme salto para a frente no processo de globalização.



Artigo publicado no Expresso 

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