Na vida apressada do dia a dia, poucas são as vezes em que nos apercebemos daqueles produtos que estão sempre disponíveis na prateleira, com elevada qualidade e diversidade. Paramos pouco para pensar nas nossas frutas, legumes, plantas ornamentais e flores, como são produzidos e por quem e até que ponto contribuem para a economia nacional e para a projeção internacional do país. Por isso, hoje peço-lhe uns minutos de atenção para este setor, que faz parte da sua vida e é vital para uma vida e alimentação saudáveis.
Portugal tem condições únicas para a produção de frutas, legumes, plantas ornamentais e flores e a qualidade da produção tem sido promovida no palco internacional pela Portugal Fresh nos últimos dez anos. Se em 2010 os consumidores estrangeiros pouco conheciam o sabor e diversidade dos nossos produtos, em 2021 não só conhecem como os distinguem pela qualidade. A pera rocha e a maçã foram os primeiros frutos a ganhar expressão fora das nossas fronteiras, mas hoje oferecemos uma prateleira cheia de cor, com frutos vermelhos, tomate, laranja, kiwi e tantos outros.
Não foi por acaso que, em 2021, atingimos o valor mais alto de sempre nas exportações: 1 731 milhões de euros. Isto significa um aumento de mais de 2% nas vendas internacionais que, nos últimos dez anos, não pararam de crescer. O setor tem, de forma consecutiva, batido recordes ano após ano e, no ano passado, ultrapassou pela primeira vez a barreira dos 1700 milhões de euros. Verificamos um ligeiro decréscimo no volume de exportações na ordem dos 1,5%, para um total de 1 565 720 toneladas. E, ainda mais significativo, é o valor da produção: 3.841 milhões de euros, mais 17% face a 2020.
Estes indicadores são um expressivo sinal da resiliência das empresas, da sua capacidade de inovação e de competitividade. E demonstram que esta é uma atividade económica estratégica para o país, baseada essencialmente no conhecimento cientifico e na inovação.
A tendência de crescimento também é fruto de uma estratégia bem definida de promoção internacional. Um dos fatores de sucesso da Portugal Fresh e dos seus 86 sócios empresarias e 16 sócios de especialidade (associações sub sectoriais) é a participação conjunta nos eventos internacionais, debaixo do chapéu “Portugal Fresh”.
A união desses esforços e sinergias permite-nos projetar o país enquanto produtor de referência e chegar a parcerias de exportação, como a que temos com o Lidl que permitiu exportar 18,2 mil toneladas em 2020 só para as lojas desta cadeia de distribuição principalmente localizadas na Alemanha.
Mas para crescermos será necessário mais do que investimento por parte das empresas. Com o território nacional com seca extrema, e uma tendência de agravamento no futuro, é essencial uma estratégia nacional para o regadio, pois só podemos ser competitivos se tivermos acesso a água. Se não renovarmos e modernizarmos os perímetros de rega existentes e criarmos novos, os países na latitude sul da Europa irão aproveitar a nossa falta de estratégia para o regadio.
O esforço das empresas no uso eficiente dos recursos ambientais e o investimento em tecnologia de ponta deverá ser acompanhado por uma visão política que coloque o setor agroalimentar no lugar que merece.
Até lá, é certo que a aposta em novos mercados e numa presença cada vez mais forte junto dos consumidores europeus e mundiais é uma prioridade do setor. A preparação e a formação dos nossos gestores é um investimento necessário e, por isso, termino com um convite para que conheça o programa GAIN da AESE, de Direção de Empresas Agrícolas e Agroindustriais.
Capacitar a gestão da Organização para a internacionalização e adquirir uma perspetiva abrangente das novas tendências da economia global são alguns dos objetivos deste programa inovador, onde refletimos sobre os desafios e as competências necessárias para levar o setor agroalimentar português aos principais palcos internacionais.
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Photo: Erik Romanenko/TASS via Getty Images