Eugénio Viassa Monteiro
Professor de Fator Humano na AESE Business School e no Indian Institute Of Management–Rohtak (India) e autor do livro “O Despertar da India”
Criando mais Organizações de Agricultores, de Empresas e mais Cooperativas
Muitas iniciativas tiveram lugar ou estão em curso na India para assegurar um rendimento digno ao trabalho de milhões de microempresários no país. Outros milhões são membros de cooperativas e outros são alvo de compras regulares por parte de empresas de pendor filantrópico, for-profit, que lhes garante uma estabilidade financeira e capacidade de expandir a sua ação, continuando a comprar e a vender. Um lamento ou desejo repetido de microempresários é que surgem encomendas nos primeiros tempos ao conhecer os trabalhos realizados, mas depressa as ordens cessam ou são irregulares, pois falta o escoamento regular, com vendas nas cadeias de retalho ou para exportação, onde tais produtos são valorizados.
Um artesão perdido numa zona rural ou no interior do país sabe produzir da sua arte. Podem ser objectos decorativos, peças de vestuário, tecidos, produtos de beleza, de cuidado da pele. Também doces típicos, geleias, mel e compotas ou cogumelos, tudo com matérias-primas e trabalho local. São coisas interessantes e muito apreciadas, boas, mas que necessitam de um canal de saída rotinado, com continuidade de vendas.
Há boa experiência neste domínio sobre a qual vale a pena refletir, para se multiplicar esquemas de aquisição a quem produz, garantindo um fluxo contínuo de vendas. Vejamos:
Adquirir e melhorar skills para a fabricação de certos produtos artesanais é um bom começo. Importa depois comprá-los, ao ritmo da produção. A Fabindia faz isso mesmo, há mais de 60 anos, com uma grande variedade de produtos. Compra a mais de 55.000 artesãos, variadíssimos, para depois vendê-los nas suas próprias lojas, mais de 320 no pais e algumas no exterior, bem situadas nas cidades com boa afluência de compradores, nos aeroportos, etc; e também por via do e-commerce. Nos Centros de Compra, até há pouco 17, os fabricantes recebem certa orientação sobre a qualidade, as cores, os acabamentos, para torná-los mais apetecíveis e vendáveis.
Ainda que difícil, haverá lugar para mais entidades como a Fabindia, sobretudo focadas na exportação para as cidades Europeias ou Americanas, onde há uma boa diáspora indiana. Além disso, internamente um pouco mais de competição reforçará a capacidade de inovação e a melhoria da apresentação dos produtos e o seu marketing.
A Sahyadri Farms post-harvest care ltd associa mais de 15,500 agricultores marginais, cada um com pouca extensão de terra. Vendem os seus produtos à Sahyadri, que prepara, embala e vende nas suas lojas ou noutros pontos contratados, nas grandes cidades e para exportação. Exporta durante meses a uva de mesa, sem grainha, produzida nas redondezas de Nashik, no Estado de Maharastra. Exporta-a para a Europa, com importantes certificações de qualidade.
Na Europa há a uva normal entre setembro e outubro, de modo que ter possibilidade de comer uva fresca e sem grainha quase todo o ano é um luxo! A Sahyadri também exporta manga em fatias de conserva ou fresca, para além de tomate fresco ou concentrado, e muitos outros frutos e vegetais. Como é sabido, nos países quentes, com sol intenso, os produtos agrícolas têm mais sabor e cores mais vivas. O total das vendas anuais supera já os $70 milhões, com mais de metade exportado.
Na India, há muitas cooperativas de comercialização do leite do tipo de Anand que detém a marca AMUL. A pedido do PM Lal Bhadur Shastri, elas foram replicadas através do NDDB-National Dairy Board Development, sob a Presidência do Dr V. Kurien, também Diretor da AMUL. Tais cooperativas prestam um grande serviço à sociedade, criando milhões de microempresários, pois em qualquer aldeia todos sabem levar as vacas ou búfalas a pastar e depois, ordenhá-las, dentro das normas de higiene, de manhã e de tarde, para entregar o leite à cooperativa da aldeia.
Por si só, AMUL tem 3,6 milhões de cooperantes; e teve tanta influência na multiplicação, que, a partir de 1998, a India passou a ser o primeiro produtor, contribuindo hoje com 24% do total mundial de leite.
Foi uma ideia genial, de justiça, dar a melhor remuneração possível ao agricultor, pagando no ato, de acordo com o volume e o teor de gorduras, nunca rejeitando, mesmo quando a produção, como em tempos de chuva, é 2,5 vezes maior do que em tempos secos. Essas práticas animam o cooperante a tomar um empréstimo para comprar mais umas vacas ou búfalas e aumentar o volume de leite que leva à cooperativa.
Importa pensar criar outras cooperativas para frutas e hortaliças. Estas poderiam ser guardadas nas câmaras frigoríficas, quando há abundância de oferta, para serem libertadas, com prudência, para o mercado local, para grandes cidades, habitualmente ávidas de consumir produtos de qualidade e frescos, ou para exportar.
Durante a pandemia a Federação das Cooperativas de Anand, projetou e lançou cerca de 100 novos produtos da sua marca AMUL. Dada a fama de qualidade a preços acessíveis, o lançamento foi um grande sucesso. Entre eles o mel de abelhas, cogumelos, doces indianos enlatados, queijos, bebidas variadas, com ou sem leite… Porque a ideia básica era ajudar a duplicar os rendimentos dos cooperantes.
Refiro também como algo muito importante o papel de algumas multinacionais com boa presença no país, como a Amazon, a Flipkart, a e-Bay, etc. que tomam medidas para vender bem mais, em certas ocasiões festivas, com bons descontos, estimulando a produção, dada a elevada quantidade que vendem.
A Amazon vende brinquedos típicos do país para clientes internos ou externos. Permite também expor na sua plataforma os produtos com os respetivos preços. Nalgumas situações as vendas de artigos quase desconhecidos tiveram enormes vendas. Isso aumentou os negócios locais, criando mais trabalho, com necessidade de treinar pessoas, ficando uma clara mensagem de que tais artesãos podem continuar a trabalhar no seu local, sem terem de se deslocar para as grandes cidades do país, perdendo a qualidade de vida.
A Flipkart, da WalMart Stores, tem dado atenção a treinar pessoal, sobretudo mulheres artesãs, para poderem pôr os seus produtos na plataforma, para os vender. De certo modo a digitalização entrou nas microempresas e ajudou a sua sobrevivência com bom aumento das vendas.
Há quem venda jóias na plataforma da e-Bay com ricos desenhos do agrado do cliente, situado bem longe da India. A internet veio dar visibilidade e novas possibilidades de sobrevivência a muitos artistas de alto nível, que de outro modo teriam de encerrar a sua atividade.
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José Fonseca Pires, Responsável Académico de Fator Humano na Organização da AESE