AESE insight #102 > Thinking ahead
Boas intenções das empresas portuguesas, falta acelerar a prática
Bruno Proença
Director for Sustainability and ESG at JLM&A | Senior Teaching Fellow at AESE Business School
O BEI divulgou um inquérito a empresas europeias e norte-americanas, com dados para Portugal. Os resultados nacionais extremam as conclusões globais: as empresas já não conseguem negar os impactos das alterações climáticas no seu negócio, mas as suas ações são ainda insuficientes e, em muitos casos, hesitantes.
O tema da Sustentabilidade é um organismo vivo. Não nasceu ontem. O estudo com profundidade, patrocinado pelas Nações Unidas, que levou ao nascimento do conceito de “desenvolvimento sustentável” vem dos anos oitenta do século passado. E surge já na sequência do relatório “Os limites ao crescimento”, publicado pelo Clube de Roma em meados dos anos setenta do século XX.
A grande mudança, sobretudo desde o fim da década passada, é que a temática da Sustentabilidade democratizou-se. Na sequência das COP, cimeiras sobre as alterações climáticas organizadas pelas Nações Unidas, o tópico da sustentabilidade e do aquecimento global entrou definitivamente na agenda dos vários stakeholders. Já não é somente um assunto das políticas públicas dos governos, ao invés é relevante para todos, incluindo as empresas. É, neste contexto, que surge a terminologia ESG – a Sustentabilidade deve ser vista em três pilares: ambiente, social e governance. No fundo, o ESG, hoje tão contestado, é uma tentativa de traduzir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para uma “linguagem” mais empresarial, mais própria de gestores e investidores.
Mais relevante do que as terminologias ou os acrónimos da moda, é o contributo das empresas para a Sustentabilidade. Neste aspeto, não devem residir dúvidas. Os objetivos fixados para a área ambiental, como a neutralidade carbónica em 2050, para a área social e de governance são tão ambiciosos e requerem alterações tão profundas, que todos temos de contribuir. O setor privado não pode ficar de fora, agarrado à velha máxima de Milton Friedman de que o fim último das empresas é apenas remunerar os acionistas.
Um estudo do Banco Europeu de Investimento (BEI), “EIB Investment survey 2023”, divulgado na semana passada, contém um conjunto de dados muito reveladores da forma como as empresas estão a gerir os impactos das alterações climáticas. O estudo resulta de um inquérito a 13.000 empresas de países membros da União Europeia e igualmente dos Estados Unidos, que foi realizado já este ano.
Assim, 64% das empresas reconhecem que a sua atividade já é afetada pelos riscos associados às alterações climáticas, mas apenas cerca de metade (36%) afirmam que adotaram medidas para mitigar este risco, sendo que 13% recorreram a seguros.
E em que áreas têm as empresas implementado medidas? Aqui não há surpresas. Cerca de 90% das organizações inquiridas responderam que já adotaram medidas para reduzirem as emissões de gases com efeitos de estufa, 59% medidas para aumentar a eficiência energética e 67% ações para a gestão de resíduos e potenciar a reciclagem. Ou seja, o estudo do BEI confirma que as empresas começam pelas ações mais fáceis.
O mais difícil é transformar o modelo de negócio. Neste aspeto, somente 32% das empresas inquiridas afirmam estar a investir em novos produtos e tecnologias mais “verdes”. E pior, quando questionados como encaram as alterações nas regulamentações e a fixação de novos standards, apenas 29% dos inquiridos respondem que é uma oportunidade, contra 33% que falam num risco para o seu negócio.
Ainda assim, o estudo deixa uma nota positiva: 56% das empresas pretende continuar a investir nestas áreas nos próximos três anos.
Portugal segue a tendência
O estudo do BEI tem também dados para as empresas portuguesas, que seguem a tendência europeia e norte-americana. As organizações nacionais são mesmo as segundas, depois de Espanha, a reconhecerem que os eventos climáticos têm impacto na sua atividade – 79%, o que fica acima da média. A fotografia é menos brilhante quando as respostas reportam a ações concretas. Somente cerca de 50% das empresas portugueses afirmam terem planos de investimento para mitigarem os impactos das alterações climáticas. E quando falamos em ações na área energética – medidas para melhorar a eficiência e auditorias nos últimos três anos –, Portugal cai para a segunda metade da tabela entre os países participantes no inquérito do BEI.
Os valores para Portugal extremam as conclusões globais: as empresas já não conseguem negar os impactos da agenda da Sustentabilidade no seu negócio, mas as suas ações são ainda insuficientes e, em muitos casos, hesitantes. Olhando para o copo meio cheio, vários estudos de diversas organizações confirmam que o tema está na agenda dos gestores, investidores e empresários. Observando a parte meia vazia, muitos ainda estão a esperar para ver, esquecendo que hoje já é mais caro não fazer nada do que atuar.
A mudança para as empresas será inevitável, nomeadamente por pressão de diversos stakeholders: o poder político aprovou nova legislação e regulamentações; o sistema financeiro exigirá cada vez mais informação não financeira às empresas para avaliar o seu risco; e os consumidores são mais exigentes. (Vamos tratar cada uma destas fontes de pressão para as empresas nas próximas semanas.) O contexto de negócio está já a mudar. Provavelmente, é melhor atuar mais cedo do que tarde.
Artigo publicado no Negócios
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