Bruno Proença
Diretor de Sustentabilidade e ESG da JLM&A e Professor da Área de Política de Empresa da AESE Business School
Um dos temas a assinalar esta semana será o arranque da COP28, marcado para amanhã no Dubai. As COP, que significam Conference of the Parties, são reuniões, organizadas pelas Nações Unidas, onde os seus membros debatem os progressos e novas medidas para o combate às alterações climáticas. O ambiente à partida para esta COP não é o mais animado.
Desde logo, a liderança dos trabalhos está entregue a um antigo alto quadro da indústria dos combustíveis fósseis. Para muitos críticos, é como colocar a raposa a guardar o galinheiro. Depois, nota-se hoje uma perda de entusiasmo à volta da agenda climática nos principais países e blocos económicos. A guerra na Ucrânia e entre Israel e o Hamas, o tema da segurança energética que vem associado a estes conflitos e a inflação ganharam preponderância na agenda dos diferentes governos. A geopolítica está a sobrepor-se à questão climática.
A agenda para a reunião, que vai decorrer no Dubai, é ambiciosa. O ponto mais importante é o ‘global stocktake’. Uma avaliação profunda sobre os progressos realizados desde os Acordos de Paris por forma a serem atingidas as metas definidas, como o limite à subida da temperatura média do planeta em 1,5 ºC. Os resultados desta avaliação só podem ser negativos. As últimas avaliações conhecidas das Nações Unidas e da Agência Internacional de Energia mostram que, com os compromissos hoje conhecidos, essa meta será impossível de atingir. Na melhor das hipóteses, teremos uma subida da temperatura média em valores acima de 2 ºC.
Isto deverá obrigar a que países e empresas assumam compromissos mais ambiciosos de redução de emissões de gases com efeitos de estufa. Aqui teremos a prova do algodão. Ficará clara a determinação e convicção dos vários países e blocos económicos. Se da União Europeia podemos esperar promessas razoáveis, pelo menos no papel, do lado dos EUA o otimismo é mais moderado. E fundamental será a posição dos países mais poluentes – China e Índia. A China só se compromete com a neutralidade carbónica para depois de 2050 e a Índia nem sequer tem uma data. Será que estes países vão evoluir na sua posição?
Neste momento, a fasquia é elevada: para que o mundo consiga a neutralidade carbónica em 2050, é necessário alcançar o pico das emissões de gases com efeitos de estufa até 2025 e obter uma redução das emissões em 43% até 2030 e 60% até 2035. Será possível? No mínimo, será muito difícil.
O segundo ponto da agenda da COP28 que poderá criar mais clivagens está ligado com a “Transição Justa”. Ou seja, a forma como os países mais ricos vão ajudar os países mais pobres a enfrentarem as consequências das alterações climáticas. Para os países mais pobres, é uma questão de elementar justiça: são os que menos contribuíram para as emissões de CO2, mas são os mais afetados pelo aquecimento global. Para os países ricos, trata-se de despender mais verbas, mas não no seu território, o que coloca problemas aos governos junto dos seus eleitorados.
Desta COP28 não se esperam avanços determinantes. Porém, será um teste importante à vontade dos países e empresas. A posição da China, Índia e Brasil será reveladora; será curioso analisar a postura da Administração Biden em véspera de entrar em período eleitoral e quando o tema ESG tem sido usado pelos republicanos como forte arma política e, mesmo na União Europeia, já se notou mais entusiasmo.
No fim da COP28, aqui estaremos para analisar os resultados, para além da espuma dos anúncios e das conferências de imprensa. E também para verificar como as Nações Unidas vão ser capazes de motivar os governos e empresas para metas mais ambiciosas e um novo entusiasmo à volta da agenda verde.
Artigo publicado no Jornal de Negócios
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Bruno Proença
Diretor de Sustentabilidade e ESG da JLM&A e Professor da Área de Política de Empresa da AESE Business School