Qualquer exercício de previsão é de alto risco. Ninguém tem uma bola de cristal para antever o futuro. Mas quando tentamos antecipar 2024, os níveis de incerteza e volatilidade, com a informação que temos hoje, são de tal forma elevados, que arrisco dizer que acertar nos acontecimentos do próximo ano será mais fruto da sorte do que da sabedoria. Só uma coisa está certa: como dizia o historiador Vasco Pulido Valente, o mundo está perigoso. E eu acrescento, o país e a economia também.
A nível político, vamos ter, no mínimo, dois momentos marcantes. Em Portugal, em março, vamos ter eleições legislativas, depois da queda do governo socialista de maioria absoluta. Neste momento, a única certeza é a incerteza. Ninguém consegue antecipar o resultado dessas eleições, tal a fragmentação do eleitorado que as sondagens têm demonstrado. O grande perigo para a economia é o país cair numa situação de ingovernabilidade. Ou seja, a estabilidade política e o bom funcionamento das instituições são condições importantes para o crescimento económico.
A nível internacional, em novembro, vamos ter eleições nos EUA. Mais uma vez reina a incerteza sobre quem vão ser os candidatos de democratas e republicanos e também sobre o resultado. Mas um regresso de Trump ao poder na maior economia do mundo será um fator de risco adicional para a ordem internacional. A forte tensão geopolítica deverá manter-se no próximo ano, nomeadamente porque o conflito entre Rússia e Ucrânia e a operação militar de Israel na Faixa de Gaza não têm fim à vista.
Na vertente económica, a grande questão vem da inflação e da política monetária. O pico da inflação já parece ter sido atingido e os preços entraram numa trajetória descendente. Porém, ainda estão longe do patamar dos 2%, que é defendido pelos bancos centrais. Portanto, uma das grandes dúvidas para o próximo ano será o comportamento dos banqueiros centrais depois de terem trazido os juros de zero, ou mesmo de valores negativos, para o nível de 4%-5% em tempo recorde. Os mercados estão a apostar que a inflação vai continuar a corrigir e que os bancos centrais (Fed, BCE e BoE) vão começar a descer os juros no segundo semestre de 2024. Mas ainda há muitos fatores em aberto, como a evolução dos salários (os chamados efeitos de segunda ordem), para termos garantias de uma redução das taxas de juro.
Certo é que a política monetária restritiva, com elevadas taxas de juro, já provocou consequências negativas na atividade económica. A maioria das instituições está a rever em baixa as previsões para 2024 para a economia europeia e portuguesa. Para já, parece que se vai evitar a recessão, mas ainda não é certo. Tudo dependerá da resistência do mercado de trabalho. Os banqueiros centrais têm defendido que este arrefecimento económico (ou “soft landing”) é necessário para controlar a inflação. Mas todos queremos evitar quebras no PIB.
Por tudo isto, o ambiente de negócio para as empresas vai ser complexo. Ainda assim, há duas tendências que se vão manter e com forte impacto transformador: a digitalização, agora animada pela Inteligência Artificial, e a Sustentabilidade ESG. Perante isto, as empresas devem ter estratégias flexíveis, que facilitem a adaptabilidade a novas circunstâncias de negócio, apostar na sua resiliência. Sem nunca esquecer a inovação.
2024: a perspectiva das curvas invertidas
Diogo Ribeiro Santos
Professor da Área Académica Economia, Finanças, Controlo e Contabilidade da AESE Business School
Não temos trabalhadores, mas pessoas que trabalham connosco
Cátia Sá Guerreiro
Professora da Área Académica de Fator Humano na Organização e Ética da AESE Business School
A constante surpresa que 2024 nos trará
Carla Baltazar,
Professora da Área de Operações, Tecnologia e Inovação da AESE Business School