Cátia Sá Guerreiro
Professora da Área Académica de Fator Humano na Organização e Ética da AESE Business School
O final do ano foi marcado por entrevistas a potenciais participantes que encontraremos nas nossas salas de aula logo no início de 2024, em algum dos vários Programas da AESE a ter início em janeiro.
Há uma questão incontornável neste primeiro contacto com aqueles que são a razão de ser do nosso trabalho e a quem dedicamos a prioridade e foco da nossa atenção: O que procura neste Programa? E as respostas têm sido convergentes com uma das que escutei de alguém que estará nas nossas aulas já em fevereiro: “Certamente que beneficiarei com a sistematização do conhecimento nas mais variadas áreas da gestão, mas… o que hoje mais interpela é a gestão de pessoas”.
Sem prejuízo para as restantes áreas académicas da AESE, digo sem qualquer reserva que a Pessoa é o recurso mais desafiante de gerir numa organização, representando um crescendo de relevância e desafio para os gestores que nos procuram para aperfeiçoar as suas competências. Sempre o foi e hoje é-o de forma ainda mais evidente. E não digo pessoa humana, um erro de linguagem certamente, pois só se pode ser pessoa sendo humano, porquanto não há pessoas não humanas. Mais ainda, também rejeito que sejamos indivíduos, mesmo que disso nos apelidem frequentemente. Somos sujeitos de relação e em relação – é isso ser Pessoa. E é justamente este ser Pessoa que atravessa desafios concretos no tempo presente que têm de ser encarados com realismo e pragmatismo, para que possamos proporcionar uma oferta formativa que responda às necessidades de quem nos procura.
Vivemos tempos e contextos de insegurança, tanto a nível nacional como internacional. Um mundo assolado por guerras em vários quadrantes, com tudo o que isto implica na vida dos países, das famílias, de cada Pessoa. Situações de instabilidade política com o impacto evidente e com o qual não gastarei linhas deste artigo. A incerteza sobre tantos temas essenciais impede que a Pessoa se sinta segura de o ser, fazendo da insegurança uma realidade que trazemos para 2024, tantas vezes mascarada de atributos que a escondem.
Assim, às empresas coloca-se a obrigatoriedade de construir, providenciar e oferecer segurança às suas Pessoas. Temos a convicção de que as empresas que consigam potenciar e garantir a segurança pessoal serão bem-sucedidas. Como? Apostando por exemplo no combate ao isolamento dos seus colaboradores, na confiança como um valor fundamental, e nunca acessório, para relações interpessoais saudáveis. Garantido apoio, companhia, interesse pela Pessoa a quem deixarão de chamar de recurso humano. Uma circunstância concreta a que assistimos é que esta Pessoa, que quer ser mais que um recurso, procura hoje formação e conhecimento em matérias de desenvolvimento pessoal. E pensemos um pouco, não será isto um sinal da procura de resposta para combater pessoalmente a insegurança? A insegurança sobre quem sou, o que valho, quais os meus talentos, quais os pontos fortes a potenciar e os fracos a desenvolver – estratégias de desenvolvimento pessoal que façam de mim, no dia-a-dia, a Pessoa que de facto sou… Nos Programas de 2024 abordaremos ainda mais estas matérias, traremos ao cenário dos nossos anfiteatros os temas que permitam às empresas, e entidades que nos procuram, afirmar com convicção que não têm nos seus quadros apenas trabalhadores, mas sim pessoas que trabalham.
Se os temas anteriores estão a ferver de urgência, há outro que não pode ser ignorado. Um tema que por um lado gera curiosidade e interesse por ser desconhecido, inovador, promissor, embrião com um potencial que não conseguimos definir claramente. Por outro lado, um tema que levanta questões éticas, até morais, de gestão de tarefas e até de empregabilidade. Quem me lê já acertou – a Inteligência Artificial. Também esta matéria entrará nas nossas sessões com os dois atributos que a assistem – a inovação e a incerteza – e os impactos para as já referidas pessoas que trabalham.
A terceira matéria para 2024 soma-se às duas anteriores, sublinhando ainda mais a importância das pessoas que trabalham. Podia até ter começado por ela. Transportamo-la dos dois anos anteriores, impactou no pós pandemia, tem feito correr muita tinta e desafiado aqueles que no quotidiano das empresas gerem pessoas. Um tema que volta este ano, mas que, na nossa ótica, ganhará com um justo equilíbrio na sua abordagem. Falo do trabalho remoto e dos novos modelos de trabalho. Pensamos que 2024 será um ano de ajustamentos, uma vez que estas matérias já entraram na nossa reflexão e tenderão a ganhar solidez e consistência. Iremos continuar a aprofundar as vantagens e desvantagens do trabalho remoto, em que nos parece que aspetos como o alinhamento com a cultura organizacional, o compromisso com a empresa e a equipa, a relação entre colegas, a entreajuda, a redução do isolamento e da vulnerabilidade se oporão à liberdade de horários e à conveniência, por exemplo, sem fazer deste confronto um conflito sem fim. Que consigamos tratar esta matéria convergindo para o equilíbrio necessário e desejável para cada Pessoa e cada empresa.
Em síntese, pois a redação já vai longa, os professores da área académica de Comportamento Humano na Organização terão para 2024 o desafio de trazer para a sala de aula matérias relacionadas com a Pessoa no contexto do mundo atual marcado pela insegurança, pela inovação tecnológica e por novos modelos de trabalho. Fica o compromisso de olhar para elas com o realismo, o dinamismo e a criatividade que o tempo presente impõe. Assumimos também a responsabilidade e o desafio de fazer da sala de aula um espaço de trabalho e de inspiração para os que nos procuram para, também, melhor cuidar das pessoas que trabalham nas suas organizações.
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