Podemos pensar na saúde do planeta como pensamos na nossa?
A COP 28 e os seus eventos paralelos decorreram no Dubai e os desafios foram muitos para se atingirem os objetivos definidos desde o acordo de Paris em 2015 na COP21. Pretende-se traçar o caminho para um futuro mais sustentável.
É necessário endereçar os temas e ações que permitam atingir o objetivo aspiracional de limitar o aumento de temperatura comparando com os níveis pré-industriais a 1,5ºC.
As medidas são conhecidas, estão acordadas por princípio e legalmente assumidas, mas cimeira após cimeira surgem dificuldades para que as mesmas sejam cumpridas e que os resultados surjam.
O dilema é claro! Se por um lado todos os interlocutores por princípio concordam com o objetivo e o bem global comum, por outro a dificuldade surge no conflito com o que cada um entende ser o progresso de uma nação, o futuro de alguns negócios e até como suportar custos associados a algumas ações de transição.
A saúde do planeta é crítica neste momento e as instituições têm de encarar a adoção destas medidas, tal como cada ser humano adota medidas para gerir a sua própria saúde. A comparação é simples, também por princípio, todas as pessoas querem individualmente ser saudáveis e sabem que devem adotar um estilo de vida saudável (assumindo que as condições mínimas de uma vida digna estão asseguradas). Nesse estilo de vida estão incluídos tipicamente alguns aspetos básicos: alimentar-se bem, fazer exercício físico preventivamente e seguir recomendações de um médico quando efetivamente há uma doença diagnosticada.
Muitas são as pessoas que conseguem garantir uma base saudável na génese da sua alimentação e fazer exercício físico regular. Há pessoas que até colocam objetivos de exercício físico como maratonas, triatlo e outras provas dificílimas que exigem horas, semanas e meses de treino disciplinado e árduo. Praticamente todas as pessoas seguem as recomendações médicas nas prescrições e tratamentos médicos. Ou seja, estas pessoas conseguem ver que têm de abdicar de algum conforto, abdicar de comer algumas coisas saborosamente viciantes por outras menos apelativas, mas mais nutritivas, abdicar de horas no sofá por esforço continuado em exercício físico, abdicar estar descontraído em algumas situações e passar a controlar horários de seguir prescrições.
As pessoas que abdicam desse conforto em qualquer uma das vertentes, não o fazem porque pensam que vão estar bem nesse momento, mas porque sabem que esses “sacrifícios” são em prol de atingir um objetivo e de algo muito melhor que virá no futuro por vezes distante: maior longevidade e com qualidade de vida.
Sei que é difícil para muitas pessoas resistir aos prazeres do dia a dia porque é difícil imaginar o que será esse futuro distante. Tal como é difícil para os decisores das nações e dos negócios conseguirem adotar medidas que tornam o curto prazo menos confortável, mas que são necessárias para garantirmos a longevidade do planeta e com qualidade na nossa existência como humanidade coletiva.
É fácil pensar que estamos bem e nada que façamos hoje vai mudar a nossa qualidade de vida futura ou minimizar os impactos climáticos, mas a verdade é que vai. Temos de nos inspirar nas pessoas que seguem uma alimentação saudável, fazem exercício regular e seguem as recomendações médicas para, como gestores, adotarmos medidas preventivas relativas à transição climática e seguir as prescrições definidas globalmente como tratamentos prescritos por um médico, neste caso o médico do planeta.
Se pensarmos na frase do Muhammad Ali “Eu odiava cada minuto do treino, mas dizia a mim mesmo: não desistas. Sofre agora e vive o resto da vida como um campeão” e a minha mensagem transpondo do desporto ao nível individual para a humanidade e o bem coletivo: vamos odiar o desconforto que as medidas nos vão trazer, mas temos de dizer: não desistas. Sofre agora e vive o resto da vida sabendo que contribuíste para salvar a Humanidade.
Artigo publicado no Portugal Amanhã >>
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