AESE insight #112 > Thinking ahead
A Era da Inteligência Artificial Generativa ao serviço das organizações
Francesco Costigliola
Chief Analytics Officer @ CGD | Data & Analytics Executive | Teaching Fellow at AESE Business School
A Inteligência Artificial (IA) Generativa está a revolucionar a forma como as organizações operam e inovam. Nesta nova era, a inteligência artificial não se limita apenas a prever e classificar mas permite criar conteúdo original e criativo, aproximando-se da capacidade humana de geração de ideias e soluções.
O lançamento dos Large Language Models (LLMs), como o ChatGPT, marcou um ponto de viragem significativo na adoção generalizada da inteligência artificial. Esses modelos, com biliões de parâmetros, conseguem aprender linguagem, contexto e intenção, tornando-se independentemente generativos e criativos. Adicionalmente, podem ser adaptados, reutilizados e reprogramados de várias maneiras para responder a um conjunto alargado de tarefas.
Independentemente da indústria em que as organizações operam, a inteligência artificial generativa tem um elevado potencial de transformação para melhorar a experiência dos clientes, aumentar a produtividade e otimizar os processos.
Para melhorar a experiência do cliente, a IA generativa permite criar conteúdo personalizado e relevante, novos produtos e serviços ou apoiar a fase criativa de marketing, gerando conteúdo para campanhas, slogans ou anúncios, tendo em conta as preferências e os comportamentos dos clientes. Adicionalmente, pode melhorar a experiência nas interações com o cliente, através da disponibilização de agentes, como chatbots, assistentes virtuais ou agentes de voz, que respondam às solicitações dos clientes de maneira humanizada e inteligente.
Outra consequência importante da utilização de IA generativa em larga escala é, como referido, o aumento da produtividade. Estas soluções são especialmente eficazes na automatização de tarefas repetitivas e demoradas, como a criação de diversos tipos de conteúdos, utilizando algoritmos que geram texto, imagens, áudios ou vídeos a partir de dados ou palavras num determinado contexto. Adicionalmente, graças às suas capacidades interpretativas, permitem acelerar e facilitar o acesso à informação relevante para suportar os processos de tomada de decisão. Outro aspeto interessante é a capacidade de potenciar os processos de inovação e criatividade, através de soluções que dão forma a ideias, conceitos ou protótipos, a partir de requisitos, preferências ou inspirações fornecidas pelos utilizadores.
Além da experiência do cliente e da produtividade interna, a inteligência artificial generativa pode ser usada para otimizar os processos de qualquer tipo de organização. Neste âmbito existem diversos algoritmos de reconhecimento de padrões, classificação e segmentação que têm como objetivo extrair informações relevantes a partir de dados estruturados e não estruturados, como textos, imagens, áudios ou vídeos. Estas soluções têm um impacto direto na eficiência e na redução do risco operacional dos processos.
Os casos de uso acima referidos podem ser implementados transversalmente praticamente em todos os setores. Existem também novos desenvolvimentos em áreas fulcrais como a saúde. Na área da biologia (1) , por exemplo, encontram-se soluções como a previsão da estrutura tridimensional de proteínas, a procura de anticorpos específicos para os ensaios dos investigadores, a aceleração da descoberta de novos medicamentos e a identificação de novos tratamentos para doenças raras.
De acordo com um relatório da Strand Partners encomendado pela Amazon Web Services (AWS) , em Portugal cerca de 35% das empresas já adotaram tecnologias de IA e, se essa taxa se mantiver, o impacto económico estimado da adoção de tecnologias chegará aos 61 mil milhões de euros. Adicionalmente, as empresas portuguesas ultrapassaram as congéneres europeias, aumentando o investimento no digital em 61% no último ano, mais dez pontos percentuais do que a média europeia de 51%.
Para que esse impacto se torne efetivo, o relatório sugere que Portugal precisa de resolver três questões críticas: criar um ambiente favorável à inovação, colmatar o défice de competências digitais no país e garantir que as empresas de todas as dimensões tenham acesso às tecnologias mais recentes.
Para alcançar todo o potencial da IA, é essencial que Portugal disponibilize o apoio correto à estratégia das competências digitais e à segurança regulamentar, de modo a apoiar as ambições das empresas e dos cidadãos.
Não podemos falar de inovação sem falar em ética e talento. A ética nos modelos de inteligência artificial generativa é um tema importante e em constante evolução. É fundamental garantir que estes algoritmos sejam desenvolvidos e utilizados de forma responsável, transparente e justa, o que inclui evitar viés e discriminação e garantir a confiança e a transparência nos processos de IA. Quanto ao talento, ainda existem desafios a serem enfrentados, como a dificuldade na contratação de recursos humanos com competências digitais, que afeta o crescimento de 71% das empresas. É importante que Portugal continue a investir na inovação e no desenvolvimento de competências digitais para aproveitar ao máximo a mais-valia da IA.
A IA generativa tem todo o potencial para se tornar uma parceira criativa ideal, revelando novas formas de atingir e motivar audiências e trazendo velocidade e inovação sem precedentes.
Estamos a testemunhar uma nova era da IA, onde a criatividade e a produtividade se unem para impulsionar o sucesso das organizações.
(1) https://www.forbes.com/sites/robtoews/2023/07/16/the-next-frontier-for-large-language-models-is-biology/?sh=4bedb0e56f05