Estamos todos conscientes do desafio que a pandemia nos colocou como país e à escala global e, mais do que nunca, ao olhar o futuro pós-covid, compreendemos que é decisivo estabelecer prioridades claras e unir forças. Neste mesmo sentido, o Programa da Presidência alemã do Conselho da UE, que se desenrolará durante este segundo semestre de 2020, colocou como meta: “Juntos. Relançar a Europa”. Na realidade, são duas metas. Uma primeira que visa o fortalecimento económico da Europa, apoiada em estratégias de sustentabilidade, inclusão e coesão social, inovação e digitalização. E uma segunda que afirma a necessidade de que esse caminho seja trilhado em conjunto, articuladamente, de forma a que todos os países europeus recuperem da crise instalada.
Juntos. Relançar o mundo
Porém, persiste a razoável dúvida sobre se vamos ultrapassar a crise de forma adequada, duradoura e eficaz. Aquando da apresentação na AESE do livro “Esperança e Reinvenção”(1), coordenado por Luís Ferreira Lopes, uma vez mais, as perguntas surgiram: Conseguiremos não abdicar de critérios de sustentabilidade em nome de uma suposta eficiência económica de curto prazo? Continuaremos a viver a solidariedade e articular recursos como o fizemos durante a pandemia?
A minha resposta é que devemos, podemos e é muito bom que o façamos.
Estados, empresas e organizações em geral, produtos e serviços devem considerar a sua responsabilidade social e ambiental. Já antes da pandemia vinha em crescendo a exigência pública para as empresas agirem de forma responsável e proativa. A crise apenas intensificou essa tendência. Muitas empresas foram forçadas, sob a pressão da pandemia, a reinventar-se, a mudar estratégias, a repensar abordagens e objetivos e fizeram-no mais rápido do que alguma vez imaginariam. Passaram a produzir ventiladores, máscaras, viseiras, álcool-gel, zaragatoas, vestuário, a fornecer alimentos a clientes diferentes, por outros canais, etc. Fizeram tudo isto não deixando de cumprir critérios de produção ainda mais rigorosos e contribuindo para um controlo mais eficaz do contágio.
O espetro de uma recuperação suja começa, porém, a pairar. Olhando para a China, um dos primeiros países a reabrir, concluímos que a promissora melhoria na qualidade do ar verificada em fevereiro e março quando as suas fábricas, a distribuição e o transporte pararam, por agora já se esfumaram.
Mas a temática da sustentabilidade não se reduz ao ambiente, devendo integrar, em simultâneo, a consideração da responsabilidade social. De pouco interessa salvar o planeta se não pudermos viver nele com dignidade. Muitos dos desafios atuais ligam-se diretamente com o uso (abuso) dos recursos disponíveis – água, energia, alimentos, matérias-primas – e os impactos que a sua utilização excessiva e descontrolada causa nas alterações climáticas, na biodiversidade, na produção de resíduos e desperdício. No entanto, as respostas ecológicas não se podem reduzir a um conjunto de soluções ambientais. A resposta necessita de ser integral e, desde logo, antropológica, afirmando a centralidade e primazia do ser humano em sociedade.
Estamos a viver uma oportunidade única para inovar em modelos de negócios, serviços e produtos em torno de novas definições de valor. A própria digitalização como motor e acelerador da mudança, foi protagonista de uma mudança sem precedentes durante a pandemia. Mas há que não esquecer que subjacente a este progresso tecnológico e desenvolvimento económico devem estar / têm de estar critérios éticos muito claros. É imperativo – não é opcional – para as empresas adotar uma visão sistémica e de longo prazo, olhando o mundo e a sua complexidade, refletindo sobre o seu impacto no mundo e na sociedade. Envolve, naturalmente, fazer escolhas, optar por abordagens rigorosas e dar tempo. Exige coragem para reconhecer e audácia para responder a este desafio. Mas muitas oportunidades se abrem e, a seu tempo, é mesmo a única estratégia que compensa e que gera retorno a todos os níveis.
A pandemia atingiu um mundo já instável, marcado por contradições. Por um lado, assistimos a falta de coordenação e até mesmo competição entre as pessoas, as instituições e países. Mas, por outro, fez-nos recordar que as nossas prioridades são partilhadas por outros e que a cooperação e a solidariedade são chave para encontrar soluções globais. Agora que estão em causa as medidas combinadas de estímulo à economia, vitais para a recuperação de cada país, é bom ter em conta que a coordenação entre os países tornaria as medidas de estímulo consideravelmente mais eficazes, enquanto que ações descoordenadas ou unilaterais podem agravar os custos sociais e económicos, direta e globalmente.
De facto, as consequências sociais das medidas tomadas, nomeadamente em termos de pobreza e desigualdade social, tal como o vírus, não conhecem fronteiras. Para dar uma ideia, estima-se que no ano passado as remessas enviadas por trabalhadores migrantes enviadas para os países de origem totalizaram 554 biliões USD – mais de três vezes a ajuda ao desenvolvimento dispensada pelos chamados países ricos, segundo o Banco Mundial. Este ano, no geral e de acordo com uma estimativa das Nações Unidas, a pandemia prejudicou o poder aquisitivo de 164 milhões de trabalhadores migrantes que apoiam pelo menos 800 milhões de parentes.
Devemos e podemos … Na realidade, em última instância, o que se pede a todos nos dias de hoje, é sobretudo uma mudança de comportamentos. Ora, neste momento, não há dúvida de que somos capazes de mudar hábitos e que podemos fazê-lo muito rapidamente. O confinamento encorajou muitas e muitas pessoas a adotar soluções digitais, seja por razões profissionais seja por razões sociais e, potencialmente, suavizou a adoção futura de tudo o que o que já conhecemos e o que ainda nem imaginamos. Além disso, fez-nos vivenciar estilos de vida diferentes, mais saudáveis e tendencialmente mais humanos não fosse a agressividade das medidas de distanciamento social. Fez-nos, por último, experimentar a fragilidade e vulnerabilidade do ser humano, individual e coletivamente.
Perante esta realidade que vamos atravessando, deveria agora ser fácil comprometermo-nos com padrões de maior sobriedade na utilização e reutilização de recursos, mas muito em especial habituarmo-nos a olhar o mundo com um olhar diferente que valorize e integre convenientemente cada pessoa. E isso sim, é bom, mesmo muito bom!
Compreender o papel da inteligência artificial na definição do futuro das organizações é um dos tópicos mais importantes da atualidade.
Livro
O livro de Iansiti e Lakhani é um livro muito bom, especialmente para os dirigentes de empresas que estão há pouco tempo a implementar a transformação digital e precisam de um ponto da situação atualizado – o livro é de 2020 – do que existe sobre inteligência artificial. Os dois professores da Harvard Business School:
– Apresentam um modelo para repensar os modelos de negócios e de operações;
– Explicam como é que os choques entre empresas digitais e analógicas estão a mudar a concorrência, a estrutura da economia, e a obrigar as empresas tradicionais a repensar os seus modelos operacionais;
– Indicam as oportunidades e os riscos criados pelas empresas digitais;
– Descrevem os novos desafios e responsabilidades dos líderes, tanto das empresas digitais como das tradicionais.
Em resumo, o livro é uma visão completa, atual e interessante da tecnologia e de como esta está a mudar os negócios e o modo de operar das organizações.
André Vilares Morgado, Professor de Política Comercial e Marketing na AESE aborda os princípios fundamentais do Marketing e explora o potencial do Marketing Industrial.
Analisa as suas especificidades e oportunidades de criação de valor, como se ultrapassar a discussão focado no preço, e aborda ainda o papel das empresas e das pessoas para a reindustrialização de Portugal.
Podcast
A missão da Euromadi Portugal passa por proporcionar aos seus Associados os mecanismos de negociação comercial e os serviços que alavanquem a sua vantagem competitiva, reforçando a sua trajetória de crescimento e mantendo a rentabilidade.
Tempos de incerteza serviram de grande aprendizagem para o comércio de proximidade
A situação de pandemia veio desafiar, inesperadamente, as dinâmicas de consumo, desencadeando uma série de alterações às quais o comércio, na sua globalidade, teve de se adaptar de forma bastante rápida. A maior crise sanitária global do nosso tempo ainda se mantém, mas suscita já um intenso debate sobre as tendências futuras do setor do comércio alimentar numa eventual segunda vaga.
Desde logo o principal desafio que os nossos Associados enfrentaram foi a organização das equipas de forma a manter o funcionamento das empresas, mas garantindo a segurança de todos, num sector que esteve sempre a operar. Um dos principais desafios na primeira fase foi assegurar o abastecimento de produtos aos Associados. Como exemplo, no abastecimento de refrigerados e congelados a Euromadi Portugal proporciona aos seus Associados o serviço EuromadiLogis criado com o objetivo de tornar a logística destes produtos mais eficiente, conseguindo garantir o abastecimento célere e eficaz durante todo este período, tendo representado por isso um papel muito importante no abastecimento dos Cash & Carry dos nossos Associados.
O súbito aumento da procura levou a uma necessária adaptação e reinvenção do negócio, através de uma série de estratégias facilitadoras que permitiram garantir a vantagem competitiva do comércio de proximidade e assegurar uma oferta completa dos seus serviços em contexto de crise: as entregas ao domicílios, as encomendas por telefone ou pelas redes sociais foram apenas exemplos de como rapidamente existiram adaptações rápidas para ir ao encontro da novas necessidades dos consumidores. A súbita necessidade de continuar a operar sem reuniões ou presença física, transportou-nos para intensos dias de videoconferências entre Lifesize, Zoom, Teams e outros, onde a aprendizagem digital de toda a equipa e dos nossos Associados foi desafiada e alcançada com êxito, mantendo sempre uma comunicação fluída entre a Euromadi Portugal, os fornecedores e os Associados, tão importante numa fase em que enfrentámos novos desafios diários.
Facto é que estes tempos de incerteza serviram de grande aprendizagem para o comércio de proximidade. Não é novidade que os hábitos dos consumidores mudaram. De acordo com o Barómetro Global da Kantar, estes passaram a ser mais digitais, conscientes em relação ao preço dos produtos e a valorizar a produção local.
Por agora, a crise serviu para amplificar todas as vantagens do comércio de proximidade: o facto de serem locais próximos das residências, a dimensão, a comodidade, a rapidez, o serviço personalizado, o acesso a produtos frescos produzidos localmente e a oferta de preços competitivos. Importa salientar que a Euromadi Portugal é uma central de negociação e serviços, que atua no mercado nacional desde 2006. Um dos nossos principais objetivos é proporcionar aos nossos associados condições para se manterem numa trajetória de crescente competitividade.
Estamos seguros que a vitalidade, a capacidade de adaptação e de cooperação demonstrada pelos nossos Associados continuará a ser uma mais valia. Seguimos atentamente a evolução das tendências de consumo tanto em Portugal como no mundo de forma a anteciparmos as alterações e os desafios que 2020 ainda trará pela frente.