José Fonseca Pires
Professor Coordenador da Área de Fator Humano na Organização e Diretor do PADIS da AESE Business School.
Um mês de confinamento forçado… e a transformação digital apressou-se, a preocupação pelo controlo de custos cresceu, e tivemos de estrear estratégias para as nossas equipas.
Mas este confinamento pode fazer-nos muito mal… se as novas atitudes e aprendizagens se tornarem rotina; se hesitarmos perante as inseguranças futuras; se nos rendermos ao medo de tantos factores fora do nosso controlo.
Desenhar o nosso futuro
De facto, podemos sucumbir, e ser um novo e desgraçado Drogo (“O deserto dos tártaros” Dino Buzzati, 1940). Destinaram Drogo, jovem tenente, para uma longínqua e isolada fortaleza de uma remota fronteira da Ásia Central, paradeiro desabitado e distante sempre encoberto de enigmática névoa a toldar a visão do futuro. Os dias, sempre iguais. Respira-se a percepção constante de uma ameaça potencial, a toda a hora presente e a toda a hora inconsistente. E a vida de Drogo, e a dos outros oficiais e soldados, escoa-se numa expectativa entediante…
É o retrato da atrofia de quem capitulou, do perigo da espera cómoda e rotineira de um futuro que não depende só de nós. Como se o melhor fosse esperar, esperar e esperar; e consumir-se nessa espera, sem sentido, nem escolhas, nem rumo…
Um confinamento assim só nos pode fazer muito mal…
Mas melhor é possível. E necessário. Optar por dar um passo, talvez pequeno, mas firme; e depois outro e outro, num projecto que exija empenho e superação.
Esta é uma oportunidade singular para agarrar com ambas as mãos. Obriga-nos a revisitar os valores que nos orientam, as nossas prioridades e escolhas. E com essa base, desenhar o nosso futuro e esculpir o porvir, exercitando a nossa liberdade. A prudência pedirá que nos aconselhemos com colegas a quem reconhecemos autoridade, que nos irão dar matizes e pontos de vista. A seguir, juntaremos as diversas opções para as ponderar com critério sensato. No final, decidiremos a escolha, talvez arriscada, fazendo uma aposta forte com todo o respeitável império da nossa vontade.
A liberdade não foi feita só para “venerar”, uma espécie de ídolo a quem prestar culto. “Sou livre! Sou livre!” – podemos gritar com toda a força; mas o grito só é pleno se nos fizer agir. A liberdade é o que nos permite actuar segundo o que nos parece certo, ser capazes de o construir, cumprir, realizar.
Vêm aí novos tempos, o post-covid-19, o “novo normal”.
A realidade obrigará a questionar a segurança do porto de abrigo, a resignação progressiva que nos faz recuar, o conformismo de ver esfumar os nossos sonhos. Mas aí estará o desafio a avançar com liberdade audaz, a abraçar as oportunidades reais, a fincar corajosamente os alicerces de um novo existir…
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