Francisco Jaime Quesado
Economista e Gestor.
Alumnus do PADE – Programa de Alta Direção de Empresas da AESE Business School.
José Ramalho Fontes
Presidente e Professor na área de Operações, Tecnologia e Inovação da AESE Business School.
Os Clusters, que integram empresas, universidades e centros de inovação, têm sido desde há muito tempo um dos principais instrumentos de política económica utilizados por diferentes países para qualificar e dar dimensão crítica à gestão da cadeia de valor e presença integrada nos mercados das diferentes fileiras económicas. Os trabalhos de Michael Porter e da sua equipa de investigação, que datam de 1985, permitiram ao longos destas décadas estruturar os clusters como orquestradores de inovação e competências nas diferentes economias, contribuindo para o desenvolvimento de redes competitivas com resultados positivos em termos de criação de valor, bem conhecidos, que também se verificaram em Portugal (1).
Aliança dos Clusters contra a Crise
A Comissão Europeia e a OCDE têm dedicado particular interesse ao tema, e os próprios clusters europeus organizaram-se recentemente em torno duma experiência colaborativa inovadora, a Aliança Europeia de Clusters, que tem vindo a reforçar a sua atuação em várias dimensões, com particular ênfase na sua transformação digital. A experiência levada a cabo nas últimas semanas pela Aliança de dinamizar uma Plataforma Colaborativa de Inovação Aberta (2) em que participam gestores, investigadores e especialistas de vários países com o objetivo de partilhar informação e conhecimento que ajude a encontrar soluções de desenvolvimento de novos produtos e serviços contra esta pandemia, tem tido um apreciável sucesso em termos de participação e de resultados conseguidos.
Quer ao nível de soluções técnicas adequadas para a produção de máscaras, como ao nível de estabelecimento de novas redes de fornecimento de materiais críticos, a discussão aberta tem permitido encontrar, com o apoio da Comissão Europeia, ideias inovadoras que se têm concretizado em respostas concretas muito positivas. O nosso país, através dos vários polos tecnológicos, gestores e especialistas, tem participado de forma ativa nesta plataforma colaborativa, com resultados concretos em várias soluções que têm surgido com grande utilidade para a comunidade. E são vários os exemplos que podemos referir: a empresa francesas Porcher Industries, que fabricava materiais para automóveis, aviação e construção e agora produz máscaras Empresas convertem-se e fabricam máscaras; a iniciativa # Tech4 Covid 19 dinamizada em Portugal por várias start up, numa base colaborativa e com resultados muito interessantes ANETIE – h2h-human-to-human e o projeto de produção de ventiladores desenvolvido pelo CEIIA – Centro de Excelência e Inovação para a Mobilidade Do CEIIA nascem os primeiros 100 ventiladores – um produto para salvar vidas e um projeto com paixão e negócio.
A presente crise pandémica tem assumido uma dimensão estrutural nunca antes vista, com consequências muito problemáticas ao nível da quebra das cadeias de valor de fornecimento e de capacidade efetiva de assegurar a produção e disponibilização de diferentes produtos e serviços necessários. Na Europa, muito dependente em várias áreas de bases de fornecimento chinesas e de outros países asiáticos, a solução ganhou particular criticidade nas últimas semanas, com a necessidade de encontrar alternativas como as que gestores e especialistas envolvidos na plataforma colaborativa da Aliança Europeia dos Clusters têm vindo a desenvolver, reforçando as competências e potenciando a coopetição. E o papel do digital tem sido determinante nesta agenda, promovendo – como muito bem sublinha o mesmo paper – uma aposta clara na criação de valor com impacto numa economia mais competitiva e numa sociedade mais coesa.
O trabalho colaborativo da Aliança dos Clusters Europeus é um bom exemplo de que também em tempo de crise a inovação aberta (open innovation) é uma prática de gestão muito útil para encontrar soluções para resposta a problemas que só podem ser resolvidos em rede, como referia Carlos Moedas na sua recente intervenção na AESE a propósito da resposta europeia a esta crise, e sinalizando o texto que escreveu com Henry Chesbrough e Marcel Bogers (3). A inovação e a ciência nas empresas têm, neste tempo de crise, uma grande oportunidade de promoverem novas soluções, produtos e serviços com capacidade de entrar nos mercados internacionais de modo articulado, em rede, e com sustentabilidade competitiva e ambiental, concluiu Moedas.
Note-se, contudo, que a ideia original dos clusters com a generalização da prática da open innovation e de iniciativas de coopetição evoluiu para o conceito do ecossistema, uma realidade mais holística que os inclui como particularização. A disponibilidade cada vez mais generalizada de ferramentas digitais muito ágeis e, nestes curtos e intensos meses de confinamento, já experimentadas por milhões de pessoas que nunca esperariam usar, tão cedo, dá uma outra abrangência e profundidade aos ecossistemas uma realidade que é cada vez mais aplicada na economia e na sociedade, em geral, como modelo de criação e partilha de valor.
(1) Vítor da Conceição Gonçalves Fernando Ribeiro Mendes Idalina Dias Sardinha Ricardo Rodrigues, (2015),”Twenty years after the Porter Report for Portugal”, Competitiveness Review, Vol. 25 Iss 5 pp. 540 – 554
(2) https://www.clustercollaboration.eu/coronavirus
(3) Marcel Bogers, Henry Chesbrough, and Carlos Moedas, Open Innovation: Research, Practices, and Policies, in California Management Review https://www.researchgate.net/publication/322424301_Open_Innovation_Research_Practices_and_Policies