Um caso é sempre um caso, com ideias corretas e erradas, com conceitos a seguir e outros a não seguir, mas sempre com lições a aprender seja pela positiva seja pela negativa.
Pediram-me para escrever sobre o caso que mais gosto de dar nas aulas de Política de Empresa. Escolhi um caso diferente. Chama-se “Chocolataria Germain”, conhecem? Provavelmente não, porque simplesmente não existe nenhuma chocolataria com esse nome… e então? O caso com apenas duas páginas conta a história de uma pequena chocolataria que passa de geração em geração, cheia de prestígio local, com um produto baseado numa receita que passou de geração em geração e em que o dono vive desafogadamente em termos financeiros, mas “afogadamente” em termos de trabalho e dedicação ao negócio. Provavelmente com esta descrição já lembra tantos casos conhecidos de empresas que são exatamente assim. Só que este dono decide pedir ajuda e arranjar um sócio. Alguém com capacidade financeira, mas sobretudo capacidade de gestão que pudesse levar este negócio a um patamar superior. E o caso termina aqui!
Quando comecei a dar aulas baseando-me no método do caso chamou-me a atenção o facto de praticamente a totalidade dos casos estarem “resolvidos” em termos históricos e o objetivo ser o de analisar a envolvente avaliando, com base na nossa experiência pessoal e profissional, as decisões tomadas, criticando ou elogiando as mesmas, definindo caminhos alternativos que, na discussão que é promovida e pela experiência que cada um partilha, são naturalmente diferentes. É por isso um método riquíssimo pois permite colocar em discussão práticas, teorias e experiências que sendo pessoais são forçosamente diferentes e assim se abrem novos caminhos, novos horizontes e novas aprendizagens.
Achei que faltava nestas aulas um pouco de construção pessoal como alternativa à análise do que outros fizeram na situação x ou y. Escrevi então este caso para funcionar ao contrário. O aluno é o novo sócio que o Pierre Germain procura para dar alma ao seu negócio. É uma espécie de faça você mesmo. O aluno tem de “escrever” o caso e construir um futuro para essa empresa: que estratégia seguir e como desenvolver essa estratégia em termos financeiros, comerciais, produção, recursos humanos, marketing, etc. etc.
Torna-se assim um caso construído por grupos de alunos que os obriga a pensar não numa ótica de consultor que está de fora a dar opiniões, mas como alguém que vai pôr a mão na massa. Apresentadas e discutidas as diversas propostas num caso que obviamente não tem solução, faço sempre uma pergunta muito prática: Se estivessem nesta situação quais eram as questões que vos tiravam o sono? Política de empresa é isto na mais pura das suas essências. As soluções apresentadas pelos grupos são sempre fantásticas (até presenteiam muitas vezes os colegas com “amostras” de chocolate) mas, na vida real, muitas das estratégias não falham por má definição da mesma, mas simplesmente porque não se avaliam as reais dificuldades. Todos somos bons treinadores de bancada, com soluções para tudo, principalmente para analisar o trabalho dos outros, mas é no desafio do fazer que se conhece a qualidade do verdadeiro gestor. A forma como se resolve um caso diz muito da pessoa que o resolve. Por isso, este é o meu caso preferido.
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Professor e Responsável Académico da Área de Política Comercial e Marketing
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