No contexto económico do final do século XX, muitos economistas acreditavam que o setor industrial não tinha forma de sobreviver no ocidente e o enfoque deveria ser a expansão dos serviços. A principal razão era de natureza pragmática: as empresas industriais mudar-se-iam para países de baixos salários.
Nos últimos anos, esta visão tem vindo a ser desafiada e o apelo à reindustrialização da Europa é crescente. O decréscimo do peso da Indústria no PIB Europeu, a perda constante de empregos no sector e a incerteza global sobre a política de trocas comerciais voltou a trazer o tema para o topo da agenda. A crise económica provocada pelo confinamento e o encerramento das atividades económicas no âmbito da pandemia COVID-19, expôs a forte dependência das economias desenvolvidas em relação às cadeias de valor globais.
É hoje consensual que o crescimento económico europeu, e por maioria de razão o português, deverá necessariamente ser também sustentado pelo investimento em unidades produtivas de bens transacionáveis, o que pressupõe um novo paradigma de produção industrial, com incorporação de produtos de valor acrescentado, inovação e tecnologia.
O sector industrial passou por várias fases de transformação, desde que no século XVIII se iniciou o que se designa por primeira revolução industrial, alavancada pela introdução da motorização a vapor. No final do século XIX, o recurso à energia elétrica como forma de motorização de máquinas deu origem ao que se considera ser a segunda revolução industrial, permitindo a introdução do conceito de produção em massa. Já em meados do século XX, inicia-se a Terceira Revolução Industrial com o aparecimento dos semicondutores, computação e a Internet.
Estamos hoje a viver o que consensualmente se designa por quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0. Na sua génese está um novo paradigma baseado na digitalização do setor produtivo, integrando tecnologias disruptivas tais como a Internet das Coisas (IOT), Cloud Computing, Inteligência Artificial (AI), Fabrico Aditivo e Analytics. De acordo com um estudo recente da consultora Mckinsey, empresas que implementaram com sucesso estas tecnologias, registaram reduções de 30 a 50 por cento no tempo de indisponibilidade de máquinas, 15 a 30 por cento de incremento na produtividade, 10 a 30 por cento de incremento na produção e reduções de 10 a 20 por cento nos custos de qualidade. Estas inovações provocaram adicionalmente impactos em toda a cadeia de valor que, embora difíceis de medir, são ainda mais importantes: maior flexibilidade para responder à procura, maior rapidez no time-to-market e melhor integração da cadeia de abastecimento.
No entanto, implementar uma estratégia de digitalização não se trata apenas de investir em novas tecnologias e ferramentas para melhorar a eficiência da produção, mas sim revolucionar a forma como todo o negócio opera e se desenvolve. As estatísticas demonstram que 70% dos programas de transformação digital não atingem os seus objetivos, muitas vezes com consequências dramáticas para as organizações. Dos gestores não se espera que tenham o domínio das tecnologias, mas é critico que tenham a capacidade de articular o valor do digital para o futuro das suas organizações e consigam liderar de forma eficiente o processo de transformação. Apenas desta forma podemos evitar os erros do passado e contruir uma base produtiva verdadeiramente sustentável e capaz de competir no mercado global.
Artigo publicado no Dinheiro Vivo
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