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Abrir caminhos de ESG entre o Setor Corporativo e a Economia Social
28/10/2024
“Sustentabilidade. ESG. Economia Social. Como pode uma entidade social viver a realidade ESG?” Foi esta a temática que trouxe à AESE um publico diversificado, maioritariamente proveniente da comunidade de antigos participantes do Programa de Gestão de Organizações Sociais (GOS). O título do evento – Who Cares Wins – remonta a 2004, ano em que o Pacto Global das Nações Unidas publicou o relatório com este título, constituindo a primeira referência ao termo “ESG”, resumindo a visão holística que as empresas deveriam adotar a partir daí.
Este seminário, concretizado em parceria com a CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social – reuniu oradores de excelência que possibilitaram o debate e a reflexão, abrindo portas para se continuar a tratar estas matérias com a profundidade que lhes é devida. A Prof. Cátia Sá Guerreiro, Senior Teaching Fellow da AESE e Diretora do GOS foi a mentora e coordenadora deste encontro.
A abertura dos trabalhos ficou a cargo do Prof. José Fonseca Pires, Diretor da AESE, e de Paulo Barreiros, Coordenador Financeiro da CASES.
O que é ESG?
Para situar a audiência na temática – que estando na agenda de todos nem sempre é clara nos conceitos que envolve e seu enquadramento – Filipa Pires de Almeida, Diretora Executiva do Center for Responsible Business and Leadership da Católica-Lisbon, aprofundou de forma clara e concreta “ESG, de que estamos a falar?”, esclarecendo os conceitos e lançando as bases para um debate com denominador comum entre os participantes. Se os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) constituem a agenda global para a sustentabilidade, o ESG não é um tema particular da Economia Social, mas sim das empresas, esclareceu Filipa Pires de Almeida.
Casos de sucesso que materializam as normas ESG no dia a dia
Não tendo as organizações sociais que reportar resultados da aplicação dos princípios ESG, fará sentido aplicar os princípios ESG ao setor da Economia Social? Se sim, que desafios se apresentam ao setor? Estaremos diante de um setor que pode caminhar com melhores resultados se viver ao ritmo ESG? Foi este o mote que reuniu o primeiro painel composto por Maria João Toscano, Diretora Executiva da Associação Dignitude, Dionísia Gomes, Coordenadora da Ação Social do Grupo Delta Cafés, Adílio Câmara, Diretor Executivo da Casa de São José e Isabel Vieira da Cruz. Moderado pelo Prof. Jorge Ribeirinho Machado, neste painel foi possível ouvir exemplos de organizações em que esta aplicação é possível, impactando os resultados de operação. Emergiu a importância das parcerias como estratégia de sustentabilidade, indo ao encontro do ODS 17.
De seguida o olhar voltou-se para as empresas e para a sua relação com o setor de Economia Social. Será que este setor representa apenas uma via para as empresas materializarem o ‘S’ da sua responsabilidade social, ou estamos perante uma oportunidade para criar valor partilhado entre entidades lucrativas e sociais? Mariana Ribeiro Ferreira, Vice-Presidente da Direção do GRACE e Diretora de Cidadania Empresarial da CUF, veio esclarecer que o “ESG é uma jornada a percorrer. O “Business as usual” já não é uma opção, importa deixar um legado sustentável às gerações vindouras, demonstrando a mais valia do trabalho desenvolvido e demonstrando que é importante medir o impacto dos propósitos e das estratégias adotadas”. Exemplificando com a realidade vivida na CUF, Mariana Ribeiro Ferreira sublinhou que há pressão, há diretrizes, há resultados a apresentar e as empresas não querem nem podem correr riscos. As organizações sociais que apresentem propostas robustas vêem-se como intervenientes em processos win-win, parte de uma cadeia de valor. Sendo a cadeia de valor o maior desafio que todos temos de enfrentar, ficou a mensagem para as organizações sociais poderem olhar para si mesmas como parte integrante da mesma.
Reinventar sem perder o fito
A mesa-redonda do período da tarde reuniu Francisco Palmares da Fundação AGEAS, Tiago Carmona, CEO da Raise N’GO, Margarida Quinhones, Diretora Executiva da Pedalar Sem Idade e Rita Sacramento Monteiro, da Fundação Economia de Francisco em torno dos grandes temas da sustentabilidade que desafiam as organizações sociais – o impacto, o empreendedorismo, a transformação digital. Num painel moderado pelo Prof. Mário Porfírio, foi possível falar de escalar impacto, partindo da experiência de investimento da Fundação AGEAS. Tiago Carmona esclareceu e exemplificou que a transformação digital não se confina a digitalizar processos, mas implica “reinventar a forma como fazemos, sem desvirtuar o propósito”. Rita Sacramento Monteiro sublinhou que “a sustentabilidade para ser de facto sustentável tem de ser vista como um conceito integrado – ao ambiente, à governação o ao social, temos de integrar a cultura, os valores, a dimensão espiritual e relacional da pessoa humana. Só olhando desta forma poderemos sair dos clichés habituais e falar realmente de sustentabilidade, de cuidado com a nossa casa comum”. A experiência da Pedalar Sem Idade Portugal, apresentada por Margarida Quinhones, permitiu a exposição prática do que foi abordado em teoria.
Parcerias intersectorias como chave que abre as portas do futuro
O remate final do dia foi dado por Inês Sequeira, CEO da Rede Capital Social, que sublinhou que “o futuro pertence às entidades que saibam não só viver em parceiras, mas sair da compartimentação”, ou seja, viver em dinâmicas de intersetoralidade, de valor partilhado, de integração. Trata-se de uma alteração de paradigma, a qual foi sendo definida ao longo do dia e que Inês Sequeira conseguiu sintetizar: as organizações sociais, sem alterar o seu propósito, a sua missão, devem aprender a fazer diferente, a olhar holisticamente para os desafios do tempo presente para fazer cada vez melhor o bem que já fazem.
Um setor social com Propósito
Foi um evento marcado pelo bom ambiente de debate, pela profundidade das reflexões e pela possibilidade de abrir caminhos que permitam a continuidade da reflexão sobre estas matérias. A palavra final foi de esperança. O setor social tem aquilo que tantos procuram: o propósito! Sem largar esse propósito, há que criar caminhos para partilhar valor, com os olhos postos num futuro que se quer sustentável. O setor social presta serviços únicos, foi algo que emergiu ao longo do dia, tendo sido lançado o desafio de antecipar o futuro, com capacidade de adaptação. O dia terminou com uma questão para reflexão, lançada por Rita Sacramento Monteiro, deixando mote para eventos futuros: poderá a Economia Social ser social sem ser integral?