25/06/2018
Pode-se dizer que cada santo tem, por assim dizer, a sua especialidade. Em termos teológicos, dir-se-ia o seu próprio carisma, ou seja a graça que mais especificamente a sua vida evidencia e, por isso, está mais relacionada com a sua devoção.
São Josemaria Escrivá foi, sobretudo, o santo que lembrou ao mundo e à Igreja não apenas o chamamento universal à santidade, mas a dignidade do trabalho como meio de santificação e de apostolado cristão.
De algum modo, desde sempre foi sabido que todos os cristãos deviam alcançar a perfeição da caridade. Nosso Senhor assim o disse, expressamente, na conclusão do programático Sermão da Montanha: “sede pois perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito” (Mt 5, 48). Muitos santos, ao longo dos séculos, também o afirmaram, como São Francisco de Sales. No entanto, seria preciso esperar pelo Concílio Vaticano II para que esse chamamento universal à santidade e ao apostolado na Igreja fosse solenemente proclamado.
Se já em tempos antigos era sabido que todos os fiéis deviam ser santos, também é verdade que se entendia, por regra, que essa vocação se deveria realizar pela dedicação às coisas espirituais, por oposição às realidades terrenas, tidas como opostas à perfeição da caridade. Por isso, quem quisesse corresponder a esse chamamento, deveria optar pela vida religiosa ou sacerdotal, renunciando ao mundo e aos seus afazeres e prazeres. Mesmo os leigos, embora vivendo no mundo, deveriam adaptar as suas vidas à espiritualidade religiosa: assim surgiram as numerosas e beneméritas ordens terceiras, que propõem uma regra mitigada para os fiéis que, vivendo no século, não podem reproduzir todo o rigor próprio da mais estrita observância religiosa.
Com São Josemaria e o Opus Dei, não é apenas o chamamento universal à santidade que se recorda: inaugura-se uma verdadeira espiritualidade laical e secular. Ou seja, aos cristãos que vivem em família e desempenham um trabalho profissional, não se deve propor uma imitação do ‘modus vivendi’ dos religiosos, mas a santificação dos seus próprios deveres familiares, profissionais e sociais.
O paradigma da perfeição cristã dos fiéis que vivem no meio do mundo deve ser a vida de Jesus em Nazaré: uma existência vivida na normalidade da sua condição familiar e profissional. Por certo, essa sua vida nada tinha de oculta: todos o conheciam muito bem, sabiam quem eram os seus pais e ‘irmãos’, bem como o trabalho que realizava a tempo inteiro, como artesão que era.
Não foi por acaso que São Josemaria faleceu no seu quarto de trabalho, no dia 26 de Junho de 1975: também a sua morte foi, afinal, um anúncio profético de que, com o Opus Dei, verdadeiramente se abriram os caminhos divinos da terra. Deo gratias!