AESE insight #56 - AESE Business School - Formação de Executivos

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É Natal! Tempo de harmonia ecológica

Maria de Fátima Carioca

Professora de Fator Humano na Organização e Dean da AESE Business School

Natal. Jesus Menino. Deus Menino. Acredito que o nascimento de Jesus, que se faz Deus connosco, é o verdadeiro presente de Natal. É a grande luz que se acende para todos, a luz que ilumina toda a existência humana, a luz que nos aproxima uns dos outros, a luz que nos reaproxima do sentido da vida.

No presépio, pressente-se uma harmonia ecológica que não deixa ninguém indiferente. Nele se enquadram as estrelas, a natureza, a diversidade de personagens, tudo e todos suspensos do nascimento de uma criança. Esta simplicidade e serenidade intrínseca ao Natal é tanto mais fascinante quanto contrasta com a complexidade e violência de muitas situações vividas na realidade, então e agora.

Neste sentido, os últimos anos obrigaram-nos a repensar o nosso modelo económico em termos do impacto no equilíbrio ecológico. Penso, por exemplo, no aumento das desigualdades económicas e sociais, na degradação ambiental e nos problemas de saúde associados, na extinção de recursos naturais, nos resíduos, nos conflitos internacionais, e em tantos outros. Todos estes problemas são de difícil solução já que requerem uma abordagem abrangente e a participação de muitos. A sustentabilidade, o grande tema onde se intersectam economia, sociedade e ambiente, não pode ser tratada como uma questão isolada a ser abordada a partir de uma única perspetiva ou área. A sustentabilidade é uma questão de muitos, é uma questão de todos.

É verdade que hoje em dia é já um imperativo moral as instituições adotarem comportamentos sustentáveis. Para além disso, já ninguém considera razoável que se negue a necessidade de adequarmos as nossas atitudes para garantir o equilíbrio ecológico do nosso planeta. Isto porque, por um lado, a evidência científica demonstra que a trajetória comportamental não se pode manter sem consequências graves até para nós próprios. E, por outro lado, recorrentemente constatamos que um estilo de vida consumista não leva a um engrandecimento como humanos, pelo contrário, leva ao embrutecimento progressivo das pessoas em causa e da sociedade. Estes factos, reconhecidos pela maioria de nós, estão, contudo, abertos a interpretações diferentes ou até mesmo contrárias.

Uma possível interpretação considera que estamos numa época de mudança de uma abordagem antropocêntrica para uma abordagem ecocêntrica. Segundo o antropocentrismo o Ser Humano é visto como elemento central do meio ambiente e todos os outros seres naturais são entendidos como elementos que contribuem para a sua plena realização. Neste sentido, o valor de cada ser corresponde ao valor que este pode representar na sua relação com o Ser Humano. Em alternativa ao antropocentrismo surge recentemente um novo paradigma, o ecocentrismo, segundo o qual a Natureza, apresenta uma beleza e dignidade próprias, independentemente das relações entre os seres que a constituem. Nesta ótica, vivemos num ecossistema equilibrado que é preciso preservar e nós, Ser Humano, somos mais um ser entre muitos seres, perdendo, de algum modo, o nosso papel primordial no mundo. 

Vale a pena, no entanto, propor uma visão mais abrangente e inclusiva da Natureza e de nós mesmos, homens e mulheres. Desde logo parece-me claro que com a evolução de comportamentos a que assistimos, não perdemos nem dignidade nem protagonismo. Pelo contrário, mostramos todo o nosso valor enquanto humanos, um valor excelso relativamente aos restantes seres com que partilhamos o planeta. Explico: o próprio de um comportamento animal é situar-se no mundo valorando o que o rodeia segundo a sensação que lhe provoca. Um animal é dotado de conhecimento sensível, reconhece e valoriza relativamente a si os agentes ou objetos com os quais interage.  Há, aliás, um sem número de interações complexas que um animal é capaz de estabelecer com o meio que o envolve. Porém, os seres humanos, precisamente pelo facto de termos inteligência, partindo do conhecimento sensível que temos, somos capazes de ir mais longe e “intus-legere” – ler dentro das coisas. Nós, homens e mulheres, conseguimos contemplar o que nos rodeia e reconhecer o seu valor. Isto conduz a uma série de comportamentos propriamente humanos como a preservação do que é belo e bom. Um leão não se abstém de comer gazelas pelo facto de estas estarem em extinção. Em primeiro lugar, não tem uma relação com o mundo que lhe permita dar-se conta de que existem espécies em extinção, não se detém sobre esse tipo de informação. E, em segundo lugar, não altera a sua dieta em função de qualquer outro fator que não seja provocado pelo seu instinto. Nós, sim, podemos abster-nos de comer determinados alimentos e alterar os nossos hábitos para preservar a beleza e a diversidade da Natureza. Dizer que a Natureza é para o Ser Humano é dizer que ela é para que nós a contemplemos, a afirmemos e a utilizemos de forma responsável. 

Esta interpretação que ofereço é, claramente, mais abrangente e mostra como neste novo paradigma, ou ética (?), tanto o Ser Humano como a Natureza se afirmam com maior dignidade. O Ser Humano está mais no centro do que nunca e a Natureza encontra-se mais valorizada do que nunca. Quando escolhemos ser humanos não só afirmamos a Natureza em geral como afirmamos a nossa própria natureza e nenhum outro ser vivo é capaz de o fazer. Mas tal enquadramento, torna-nos também responsáveis, pelo mundo e uns pelos outros. Somos capazes de nos maravilhar com a Natureza, mas responsáveis por a preservar, proteger e entregar à geração
Nesta perspetiva, os líderes empresariais assumem uma responsabilidade acrescida dada a sua capacidade de impactar e incentivar mudança positiva na sociedade e no mundo. Com as suas decisões sobre contratação, gestão de recursos, estratégias de localização, gestão das suas pessoas e até mesmo sobre formas de remuneração, podem influenciar a tendência para um consumo mais responsável e sustentável e uma relação mais saudável com o ambiente.

Desta perspetiva vem também um convite individual, dirigido a cada um, à vivência da sobriedade, a não ser dominado pelas realidades materiais, mas antes a geri-las de acordo com o sentido que ambiciona para a sua vida. A não arrastar os dias nos hábitos adquiridos, mas renovar o estilo de vida, aprendendo a fazer mais com menos, a apreciar mais com menos, a viver mais com menos. Não assumindo esta transformação como algo negativo e castrador, mas como uma decisão humana e positiva, para ter o coração livre e (re)centrado no essencial da vida.

O Natal recorda-nos tudo isto. De alguma forma, a figura do Deus Menino no presépio centra-nos na fragilidade e beleza da vida humana. Atrai-nos e impele-nos a olhar, com atenção, para além de nós mesmos, vencendo a indiferença ou incapacidade para estabelecer relações genuinamente humanas. Leva-nos também a olhar as estrelas, o mundo, com tudo o que nele existe e deve ser preservado. Recorda-nos a importância de renovar atitudes, de reencontrar o sentido de cada ano, de atualizar a esperança e persistir.

Um Santo Natal e um excelente 2022! O próximo ano espera por todos. A única certeza que traz é que vai valer a pena vivê-lo! Para tal há que manter-se ativo, desenvolver o conhecimento e a inspiração, ficar atento às surpresas, acolher as oportunidades e, sobretudo, cuidar e desfrutar da companhia e amizade dos que estimamos.

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Digital Strategy: o emergir de uma nova estratégia

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