Neste nosso “novo” mundo, em que praticamente tudo em nosso redor se tornou mais agitado e digitalizado e onde informação e “ruído” se tornaram omnipresentes, torna-se imperioso encontrar novas formas de comunicar e sedimentar conhecimento que estejam alinhadas com esta dinâmica, quer nas empresas quer na vida quotidiana.
Sobretudo num contexto cada vez mais digital, onde máquinas e algoritmos tendem a superar-nos em diversas arenas, é hoje claro que o desenvolvimento das chamadas soft-skills se tornou crucial para mantermos alguma vantagem competitiva face a esta realidade. Só neste patamar mais “soft” nos conseguimos diferenciar da capacidade de processamento “sintética” e capitalizar as áreas onde somos efectivamente melhores – potenciando a nossa humanidade, e o conjunto de valências e competências que nos são intrínsecas como a empatia, tolerância e tantas outras virtudes do domínio da inteligência emocional que como o Daniel Goleman escreveu[1], potenciam a nossa “capacity for connection”.
É neste ambiente de necessidade premente de reforço da humanização em todas as esferas, e muito particularmente no ensino e formação que o Método do Caso, adoptado pela Harvard Business School desde 1921 se destaca. Ao assentar as suas bases no antigo método socrático de ensino participativo, o Método do Caso revelou-se uma ferramenta instrumental para formar os melhores gestores a nível internacional ao longo de muitas décadas.
Mas foi em inícios de 2020 que o Método do Caso foi efectivamente colocado à prova. Recordo-me bem do receio que o tema da pandemia instilou no universo de escolas internacionais, que contavam com anos de experiência de ensino com Método do Caso com base num mundo físico onde o cariz participativo – num paradigma “cara a cara” e “olho no olho” com os Participantes dos Programas era apresentado como “a” grande vantagem competitiva. Numa realidade perturbada pela pandemia, tudo se questionou e houve que repensar e até questionar se o método ainda se prestaria a um novo contexto, agora num formato digital sem pessoas nas salas de aula e em modo full-online. Também nós na AESE Business School, passámos por esta etapa de análise e maturação, optando por responder com o lançamento de um novo Programa – o Digital Emersion Executive Program – DEEP, desenhado de raiz para este contexto, onde se obtiveram resultados surpreendentes, abrindo novos horizontes e expandindo a aplicação do Método do Caso. Depois do primeiro século de aplicação prática, esta metodologia provou que potencia e muito vários tipos de skills dos Participantes dos Programas de formação em qualquer realidade (física ou virtual), provavelmente desenvolvendo até alguns menos conhecidos.
É sobre um tipo particular de soft-skill – as “Meta-Skills”, proporcionadas pelo ensino com o Método do Caso que Nitin Nohria, Dean da Harvard Business School, nos fala no seu artigo “What the Case Study Method Really Teaches” publicado em 21 de dezembro passado na Harvard Business Review. Segundo Nitin Nohria, as “Meta-Skills” consistem num conjunto de “habilidades” de longa duração que permitem a alguém aprender novas coisas de forma mais rápida, funcionando como um “indutor” ou “catalisador” de aprendizagens. No referido artigo, Nitin Nohria dá como exemplo os benefícios de longo-prazo que uma criança pode retirar ao ter aulas de música, para além da vantagem inicial de aprender a tocar um determinado instrumento.
O Método do Caso, ao colocar os Participantes dos Programas no centro da acção e decisão, “calçando” os sapatos do decisor, ensina a analisar melhor os problemas considerando o contexto organizacional interno e o ecossistema externo, ajudando a aplicar melhor a teoria na prática e a induzir teoria da prática, consolidando o processo de sedimentação de conhecimentos de forma eficaz. Desta forma, aumenta-se a capacidade de análise crítica, de julgamento, de tomada de decisão e de formulação de planos de acção consistentes. Segundo o autor, são estas características que induzem um conjunto importante de “Meta-Skills”.
Para finalizar, Nitin Nohria, apresenta um conjunto de sete “Meta-Skills” resultantes da aplicação do Método do Caso, nomeadamente: Preparação, Discernimento, Reconhecimento de Polarizações, Julgamento,Colaboração, Curiosidade e Auto–confiança, apresentando as devidas justificações para cada uma destas.
Em suma, um artigo com forte recomendação de leitura para os tempos que correm:
What the Case Study Method Really Teaches | Harvard Business Publishing Education
[1] Daniel Goleman, Social Intelligence: The New Science of Human Relationships
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