Com o recente pressuposto do fim da pandemia e o alívio das restrições governamentais e sanitárias, em quase todos os espaços de transporte, alojamento, restauração e de lazer, o turismo recuperou a sua atividade normal, com turistas internacionais e residentes a viajar com estatísticas acima de 2019, o último ano “normal” e pré-covid, cujos dados nesse ano já tinham sido um record de resultados nas contas da economia nacional e do turismo.
Agentes de viagens, tour operadores e empresas hoteleiras, reportam um aumento significativo nas reservas nos últimos meses e para as próximas épocas de Verão e Outono. O World Travel & Tourism Council ( https://wttc.org ), que representa a indústria global de viagens e turismo, divulgou um estudo recente em que as viagens e o turismo mundial irão atingir em 2022 níveis acima de 2019.
Igualmente um estudo efetuado pelo MasterCard Economics Institute (https://www.mastercardservices.com/en/reports-insights/economics-institute/trends-transitions-report) refere que o numero de voos reservados em 2022, já é superior a 2019, nas várias vertentes de motivos de viagem, embora as viagens de lazer tenham recuperado mais rápido que as viagens de negócio. Apresenta igualmente algumas novas tendências e alterações no perfil do turista e do viajante, seja nos destinos selecionados, seja nos hábitos de consumo.
Um outro estudo da Deloitte (https://www2.deloitte.com/us/en/insights/focus/transportation/summer-travel-survey-predictions.html) analisa o comportamento e as previsões de consumo dos turistas, onde os gastos em hotéis e experiências, indica que os viajantes procuram novos destinos e estão ávidos de novas experiências, privilegiando o conforto e o bem estar. Os nómadas digitais passaram a ser um novo segmento a considerar.
Embora a incerteza ainda exista e as políticas governamentais ainda mantêm o uso de máscaras nalguns locais e meios de transporte, embora sem necessidade de teste para viagens, o setor está assistindo a uma forte recuperação dos viajantes estrangeiros para fazer grandes viagens este ano, principalmente para destinos internacionais distantes e cidades europeias.
“Viajar não é mais e apenas ‘ir a algum lugar'”, refere a Expedia, um dos maiores sites de reservas online mundiais. “Saindo de um período tão longo de restrições e limitações, 2022 será o ano em que extrairemos cada pedaço de riqueza e significado de nossas experiências.”
As estatísticas de dormidas de turistas pelo INE e pelo Turismo de Portugal (https://travelbi.turismodeportugal.pt) mostram que Portugal apresenta uma tendência muito favorável de crescimento e recuperação do setor, mais rápido que outros destinos.
Na hotelaria a procura aumentou significativamente, com muitas reservas em last minute e naturalmente os preços de venda estão a subir, não só pelo efeito da procura, mas também pelo aumento dos custos operacionais, nomeadamente energias, salários e matérias-primas, obrigando a refletir no cliente este aumento de custos, que pela sua natureza serão custos estruturais, porque vieram para ficar.
Nos hotéis de resort, localizados em destinos de lazer a recuperação foi mais rápida que nos destinos de cidade e de negócios, embora a expectativa e o comportamento da procura seja distinto para estes dois tipos de destino, com elasticidade e sensibilidade ao preço diferente.
A procura por outras formas de alojamento, não está nesta fase a afetar a procura e o negócio da hotelaria tradicional. Igualmente as notícias recentes sobre a discussão e alteração da legislação atual do Alojamento Local, apontam para uma redução da oferta e das unidades disponíveis a breve prazo.
O grande desafio imediato é a falta de pessoas e colaboradores para trabalhar no turismo e na hotelaria, resultado de um fenómeno com muitas variáveis, cujo efeito pós-covid ainda ninguém ainda conseguiu explicar, mas que afeta negativamente os serviços e a qualidade da sua prestação, sobretudo quando os preços dos serviços aumentam e a sensibilidade dos clientes ao serviço se ter alterado com a pandemia.
As notícias diárias sobre os problemas de gestão operacional de diversos aeroportos em várias cidades do mundo, são os efeitos mais visíveis de um problema bem mais complexo e amplo.
Na adaptação aos tempos atuais, muitas empresas hoteleiras locais e multinacionais, recorrem ao outsourcing de serviços e experiências, em parceria com outras empresas locais para contornar a falta de capacidade operacional própria, desenvolvendo criatividade e novas formas para a entrega do nível de serviço desejado pelos clientes. Como exemplo veja o caso da Breeze (https://www.breezetab.com/hotels) que fornece room service aos hotéis parceiros.
O aumento da digitalização das unidades hoteleiras, como o online check-in, comunicação digital (chatbots, whatsapp, etc) e até room service com robots, são a procura de soluções para gerir a redução de capacidade humana.
Com a acentuada e rápida recuperação do turismo e da hotelaria, os negócios de investimento e de aquisição de ativos hoteleiros tornaram-se mais frequentes e o setor mais atrativo para os diversos tipos de investidores, nomeadamente do setor financeiro. Alguns negócios já estavam em curso durante o período covid, por motivos diferentes, onde alguns se concretizaram e provavelmente outros serão concretizados durante este ano, sobretudo porque agora as expetativas de retorno são ainda melhores.
O futuro terá algum risco, nomeadamente a incerteza da estabilidade económica. Durante variados anos tivemos resultados económicos regulares e num intervalo com pouca oscilação. Mesmo em anos de crise económica não tivemos inflação acentuada, apesar de não haver crescimento económico, mas a previsão era mais ou menos sustentável, ou com dados históricos ou com cenários plausíveis. Atualmente esta situação mudou radicalmente, onde a maior certeza que temos é a incerteza do futuro no curto prazo. Como em todos os investimentos, esse risco pode tornar-se o fator diferencial para elevados retornos, quando comparado com outras geografias, onde existem riscos maiores.
Portugal apresenta um conjunto de atributos e características permanentes ou de longo prazo, a vários níveis: localização geográfica e diversidade territorial, clima, ambiente social favorável, estabilidade política e económica, segurança, competitividade, qualidade de vida, infraestruturas viárias e outras, tecnologia, que tornam os investimentos em ativos hoteleiros e os seus indicadores de retorno do investimento, muito atrativos.
Texto desenvolvido a partir de uma apresentação efetuada a investidores e alunos de MBA da Neeley Business School – Texas Christian University na AESE, sobre o potencial de investimento em Portugal.
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José Ramalho Fontes
Presidente da AESE e Professor de Operações e Tecnologia
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