Gonçalo Santos Andrade
Presidente da Portugal Fresh e Diretor do Programa GAIN – Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar da AESE Business School
A junção de esforços e a colaboração entre empresas traz sempre resultados positivos. E, num país com uma dimensão pequena, pouca disponibilidade de terra, e em que a média das explorações agrícolas não chega aos 14 hectares, a cooperação entre empresas é uma necessidade há muito urgente. A organização da produção mudaria, da noite para o dia, a dinâmica económica da agricultura, dos produtores e de um setor que gera inegável riqueza e conhecimento, mas que está ainda muito aquém do seu real potencial.
Em 1997 (há 26 anos!), com a criação da Organização Comum de Mercado para as frutas e legumes, os produtores foram incentivados a organizarem-se através de Organizações de Produtores: um mecanismo que reforça a sua orientação para o mercado, aumenta a competitividade, a escala e o valor do que produzem. Os programas operacionais (PO) foram criados para facilitar este processo e o grau de adesão foi muito diferente entre os Estados-membros da União Europeia. Os países que perceberam, desde logo, as vantagens do poder de colaboração conseguiram aumentar o seu poder negocial, remunerar melhor os produtores e criar estruturas fortes que respondem às necessidades dos clientes e dos consumidores. Bélgica e Países Baixos são os melhores exemplos (na Bélgica o grau de organização chega aos 90%); na União Europeia a média de organização e valor da produção comercializada através de OPs, situa-se nos 50%. Infelizmente, Portugal não acompanhou a tendência e, hoje, apenas 20% da produção está organizada.
Somando a pouca organização, à necessidade – também urgente – de uma renovação geracional, estamos perante dois enormes desafios do setor agroalimentar que importa ultrapassar. Segundo o INE, 53% dos produtores singulares têm idade igual ou superior a 65 anos. A formação contínua ao longo da vida deve ser, por isso, uma prioridade ainda mais vincada no setor agroalimentar e, programas como o GAIN – Direção de Empresas da Cadeia Agroalimentar, da AESE Business School são instrumentos de conhecimento fundamentais para dotar os agricultores de maior capacidade de análise e decisão, competências em liderança e gestão de equipas, conhecimento sobre ferramentas financeiras, modelos de negócio ou estratégias de internacionalização. Tratam-se de competências fundamentais para enfrentar o mercado global.
Do lado político, é urgente criar mecanismos que incentivem os produtores a integrarem Organizações – com programas mais ambiciosos e menos burocráticos – e promover a formação ao longo da vida. Os produtores têm, também, de ver vantagens reais no poder da organização, da concentração da oferta e no aumento da sua escala e consequente força negocial. E não esquecerem que o conhecimento também é poder.
Artigo publicado no Dinheiro Vivo