AESE insight #120 > Thinking ahead
Recrutar pessoas como são (na sua totalidade) é a chave para o sucesso pessoal e organizacional
Há uns meses, no âmbito de um processo de recrutamento, recebi um CV de uma pessoa que conhecia e vi que tinha omitido o que sabia ser uma parte fundamental da vida do candidato. Confrontado com o tema disse-me “acabei por apagar essa parte no CV porque em processos de recrutamentos anteriores disseram que não era profissional”.
Falamos de voluntariado e organização de campos de férias durante vários anos seguidos …
Este acontecimento, apesar dos mais de 10 anos na área de pessoas e com muitas e muitas horas de recrutamento, deixou-me acima de tudo preocupada com o estado do recrutamento nas nossas organizações apesar do tanto que tem sido estudado sobre o tema.
Se queremos as melhores pessoas, temos de as procurar conhecer no seu todo, e perceber se terão os valores, as atitudes e os comportamentos que melhor se adequem à nossa necessidade e realidade atual (e futura) da nossa organização e só o conseguiremos se formos mais a fundo na pessoa total (pessoal, social e profissional).
Achar que não é profissional colocar no CV uma parte tão fundamental da experiência de vida de um candidato como os seus vários anos de dedicação ao outro é reduzir a avaliação às competências (que deverão naturalmente ser validadas) mas que, por si só, não nos permitem avaliar a consistência dos bons desempenhos a curto, médio e longo prazo e o alinhamento do candidato com a cultura da organização.
É certo que entrar na área da avaliação das atitudes em sede de entrevista dos candidatos é muito mais exigente para o recrutador porque requer uma maior preparação e uma maior entrega ao processo de entrevista do candidato … implica levar o candidato a partilhar “deeper” as suas experiências, aprendizagens e a forma como agiu caso a caso para que possamos avaliar os comportamentos e atitudes esperadas em ambiente de trabalho.
E pomo-nos a grande questão: como recrutamos as pessoas com a atitude certa para a nossa organização e para a função em concreto que queremos recrutar?
- Em primeiro lugar se não sabemos o que precisamos, dificilmente teremos o que queremos.
Cada cultura é única, e também as atitudes de cada organização são únicas e muito próprias pelo que tem de ser efetivamente feito à medida.
Pelo que, para recrutar atitude, temos que ter claro quais são as 5 a 7 atitudes desejáveis – para tal devemos entrevistar as pessoas que tenham desempenhos excelentes e as atitudes desejáveis e observar o que fazem, como agem e, por oposto, identificar os 5 a 7 comportamentos que não queremos ver acontecer. - Preparar as perguntas que nos levam à descoberta das atitudes desejáveis nos candidatos, que verdadeiramente levem o candidato a sair do seu script de preparação de entrevista, colocando o candidato perante as situações cujas respostas nos permitam identificar as atitudes desejáveis ex. numa empresa em que se pretenda o trabalho colaborativo se o candidato para resolver uma determinada situação responde que agiria de forma mais individual – será uma forte indicador de que não se integrará na forma de atuar da equipa/organização.
- Incluir a avaliação dessas atitudes na grelha de avaliação dos candidatos com uma escala que permita distinguir os vários candidatos.
Recrutar pela atitude é crítico e urgente se queremos organizações felizes e com sucesso sustentável.
É a condição “sine qua non” do sucesso do recrutamento, do desempenho individual, da equipa e da própria organização bem como da cultura e clima organizacional.
Se pensarmos no impacto que tem nas nossas organizações e, como tal na nossa vida, pessoas negativas, que culpam os outros, que não têm iniciativa, que procrastinam, resistem à mudança, vivem do ego e/ou posição hierárquica …vimos claramente o que não queremos que nos rodeie e também que não há aqui um tema de competências técnicas ou capacidades, mas, de atitude …
Por isso dedicamos tanto tempo a este tema nas aulas de fator humano na nossa escola para formarmos líderes que vão mais além (e mais a fundo) na escolha das suas pessoas para integrar as suas equipas e organizações e, com isso, possam efetivamente ter, de facto, as melhores pessoas a trabalhar nas suas equipas e empresas.