Pedro Alvito
Professor de Política de Empresa da AESE Business School e Diretor do Programa “Construir o Futuro nas Empresas Familiares”
Vivemos numa sociedade que se preocupa cada vez mais com a satisfação imediata das necessidades, buscando um consumismo a que eu chamo de satisfação pela antecipação – queremos sempre ter e experimentar aquilo que acabou de sair e principalmente fazê-lo antes de todos os outros.
Pensar que vamos comprar algo para usufruir apenas daqui a alguns meses ou anos é impensável. Tudo se centra na satisfação no hoje.
Todo este processo traz implicações inevitáveis ao nível da gestão. A excessiva preocupação com a mudança que gera desperdícios infindáveis nas empresas sem proveitos palpáveis ou evidentes ao que se junta uma gestão profissional quase sempre a prazo limitado no tempo gera inevitavelmente uma preocupação excessiva com o hoje por parte de muitos gestores.
O sucesso está, pois, intimamente ligado ao conceito do imediato, basta ver qualquer canal de televisão e todos os programas prometem mundos e fundos para o agora, mas nenhum trabalha uma carreira que seja sustentável. Inevitavelmente que a qualidade baixa, o consumo torna-se instantâneo e o futuro para aqueles que participam (tirando raríssimas exceções que confirmam a regra) nunca irá existir deixando para trás esse sucesso e brilho fugaz.
Noutros tempos (expressão hoje em dia tão odiada) tudo era feito a pensar no futuro – a música, a arte no geral, o pensamento político, a gestão estratégica e até os móveis da nossa casa. Hoje lembramos mais facilmente um sucesso musical dos anos 60, 70 ou 80 do que um do ano passado ou de há dois anos. A arte passou a ser feita de instalações temporárias, performances e manifestações artísticas caracterizadas pelo efémero. O pensamento político transformou-se em propaganda e tecnocracia ao sabor de eleições ou de sondagens em que o programa político dos partidos é substituído pelas ideias e pela agenda dos seus líderes e os móveis deixaram de ter estilo e até de ter madeira para se tornarem material de desgaste rápido… Na gestão procuramos como na agricultura e sem olhar às consequências, o lucro rápido dos eucaliptos em vez de deixar às gerações vindouras a riqueza dos sobreiros. O que importa é valorizar ações, distribuir dividendos crescentes e criar seguidores e apoiantes nas redes sociais que transformem a empresa num sucesso mediático.
No entanto este cenário aparentemente apocalíptico tem os seus D. Quixote dos tempos modernos – as empresas familiares. Dizem os estudos que as empresas familiares são as mais avessas à mudança e mais conservadoras em termos de processo de decisão, mas são também as que mais investem em inovação, fomentam o emprego, apostam no mercado global e criam riqueza para o país. São também aquelas que mais se preocupam em olhar para o futuro não esquecendo o presente. Só com muita sorte chegaremos a um futuro melhor se não traçarmos um objetivo concreto, definido e quantificado a partir sempre de uma realidade presente devidamente analisada e conhecida.
A gestão é feita de outro modo. Dá-se importância ao que é realmente importante e o foco está na sustentabilidade do crescimento e na continuidade do negócio.
É importante ter uma gestão preocupada não só com o governo da empresa mas também com a posição da família na empresa e a sua governance, saber gerir corretamente e antecipadamente um processo de sucessão, enquadrar toda a questão financeira dos dividendos, investimentos e participações de capital em termos de empresa e família, saber comunicar não só para o exterior mas também para o interior da empresa e da família, conseguir concluir acordos de família que permitam criar um quadro de funcionamento saudável para o futuro da empresa e da respetiva família são tudo tarefas próprias destes D. Quixote dos tempos modernos.
O longo prazo é a continuidade, é o futuro que as famílias querem para as suas empresas fora de qualquer moda temporária ou mudança impingida por obrigações sociais de circunstância. Gerir uma empresa familiar não é gerir o “meu” negócio, mas receber um ativo da geração acima e torná-lo ainda melhor e mais forte para a geração abaixo.
É por isso que Construir o Futuro nas empresas familiares é uma obrigação e será sempre o desígnio dos seus gestores.
Foi com base nesta convicção que escrevi o livro intitulado “Manual de Como Construir o Futuro nas Empresas Familiares” porque julguei ser importante criar um referencial rápido para todas as gerações envolvidas e para todos os membros das famílias empresárias independentemente do seu posicionamento acionista e de gestão. Este aspeto é crucial nas empresas. Gerir uma empresa familiar implica todo um conjunto de relações que importa conhecer e saber gerir. A família pode e deve ser uma alavanca para o negócio criando uma base sólida para que o mesmo se possa desenvolver.
Construir o Futuro faz aqui todo o sentido, por favor não sonhem apenas com o imediato.
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