A visão da Área Académica de Comportamento Humano na Organização
Artigo de José Fonseca Pires, Eduardo Pereira, Cátia Sá Guerreiro e Paulo Miguel Martins
1. Quais são as principais tendências a considerar no âmbito do CHO para o ano 2022?
Tendo em conta a atual contingência, a área de Comportamento Humano na Organização é francamente impactada pelos novos modelos de trabalho e de gestão de equipas. Se bem que em 2021 este fosse já um tema em agenda, o impacto é agora mais real e aplicável aos mais variados cenários. Podemos falar, entre outros, dos seguintes temas:
- Flexibilidade (de horários): necessidades do negócio versus restrições; imposições legais e sanitárias versus necessidades das famílias;
- Retribuição: Expetativas e reivindicações salariais (perspectiva de aumentos do salário mínimo em Portugal quando se espera aumento da inflação mundial) versus dificuldades económicas conjunturais (em alguns setores afetados pelas alterações de padrões de consumo);
- Formação: grandes oportunidades para investir na formação dos colaboradores (para além das formas presenciais, que têm grande impacto, não esquecer as formações através de plataformas online, MOOCs, CBT, etc.
- Recrutamento: a escassez de competências técnicas, na maioria das profissões qualificadas, conjugada com as incertezas na conjuntura económica, levam a tentar diminuir riscos na contratação;
- Talento: escassez de perfis com maturidade; gerações cada vez menos “bem formadas”; competências-chave: responsabilidade, ambição, esforço, etc.
- Saúde psicológica: tendência para aumento dos casos clínicos (causados menos pelo trabalho e mais pela conjuntura, mas que afetam a prestação das pessoas no trabalho);
- Polivalência: disparidade de sucesso entre setores de atividade (alguns setores a fechar e outros com escassez de pessoas) conduzem a oportunidades/necessidades para “reciclar” as funções/competências das pessoas.
Mas podemos também abordar, por exemplo, o impacto de trabalhar recorrendo a meios individuais de proteção. Nas profissões em que se exige o trabalho presencial (hospitais, escolas, infantários, cozinhas e pastelarias, mercados e lojas, e tantos outros locais), que impacto existirá ao trabalhar sem ver plenamente o rosto do outro? O rosto do colega, do cliente, do chefe. E o toque, ou a ausência dele?
Outros temas são a gestão de tempo, e o grande tema da conciliação trabalho-família: em modelos híbridos, onde a casa se torna escritório e este se pode deslocar para além-fronteiras de geografia, como conseguir uma gestão do tempo pessoal que garanta um equilíbrio entre os diversos papeis que cada um de nós desempenha na sua vida, nas 24h de cada dia?
E na liderança, a importância do optimismo, ultrapassando os obstáculos e sentindo-se estimulado com os desafios. Isso gera confiança nos outros ao verem o empenho e o compromisso do dirigente nas suas atitudes, gestos, ações e decisões.
2. e 3. Que temas de impacto transversal deveriam ter um espaço importante na agenda da alta direção em 2022? E que vão requerer uma maior atenção das empresas?
Sem dúvida, o grande tema da Liderança. E na liderança cabe tanto… entre outros temas:
- Preocupar-se com o estado psicológico das pessoas.
- Preocupar-se com o nível de maturidade das pessoas:
- se as pessoas que recrutam não são maduras, porque a sua família, ou a sua escola, ou a sua comunidade não as formou, as empresas deveriam investir recursos para desenvolver as pessoas nesse sentido (competências humanas e de relacionamento interpessoal);
- a incerteza e instabilidade que parece não abandonar grande parte do Ocidente, leva a problemas de natureza psicológica que terão de ser abordados;
- desordem na prioridade das pessoas (preocupam-se com assuntos menos importantes para as suas vidas e ignoram os mais importantes);
- Envolver mais as pessoas no negócio:
- partilhar mais informação,
- comunicar melhor,
- orientar para o que é mais importante em cada área/função,
- ainda que a incerteza do negócio seja maior neste momento, é preferível comunicar o que se sabe, com naturalidade e serenidade, do que deixar as pessoas com dúvidas sobre o futuro.
- Investir na formação em desenvolvimento pessoal (ir muito para além do profissional)
Para além disso, desenvolver estratégias de comunicação interna – focadas na transparência, comunicação de resultados com base em objetivos claros para todos e em inovação.
E a comunicação tem de ser desenvolvida e aplicada de forma eficaz, nomeadamente:
- Saber definir o que é essencial no momento concreto;
- Conseguir focar a atenção dos outros no que é essencial, num sistema com cada vez mais informação e dados, que podem conduzir à dispersão e distração…
- A utilização do “storytelling” como uma ferramenta que produz impacto real nas pessoas;
- Desenvolver a capacidade de escrita direta e assertiva, de maneira a saber transmitir o que realmente se pretende com cada mensagem;
- Identificar o que é específico da comunicação “virtual”, distinguindo daquilo que é próprio da comunicação “ao vivo”, embora tendo bem presente que uma ampla base comum do que é “comunicar bem”…
E claramente a ética! Uma ética prática, uma ética que obrigue à reflexão e a uma ação por ela norteada.
4. 3 atitudes / dicas / conselhos a ter em mente, enquanto líder, no próximo ano?
Um líder de 2022 deverá cultivar várias atitudes, nomeadamente:
- Planeamento flexível, isto é, planear (sempre, nada se faz sem planeamento…) com rigor e fundamentação, mas com espaço à flexibilidade para absorver imprevistos que, por definição, sempre ocorrem;
- Escuta ativa dos diversos atores com quem contracena nos mais variados atos em que intervém;
- Inovação nas estratégias de proximidade em relação a colaboradores, clientes, fornecedores e todos os stakeholders do seu mapa de ação.
- Gratidão e de procura do bem, mesmo em cenários onde tal não seja uma evidência imediata.
A visão das Áreas Académicas para 2022
Política de Empresa
Artigo de Adrián Caldart, Presidente do Conselho Académico e Responsável Académico de Política de Empresa da AESE Business School e Professor do IESE Business School
Política Comercial e Marketing
Artigo de Ramiro Martins, Professor e Responsável de Política Comercial e Marketing
Operações, Tecnologia e Inovação
Artigo de Jorge Ribeirinho Machado, Agostinho Abrunhosa, Joana Ogando e Nuno Biga