As expressões “Alterações Climáticas” e “Transição Energética” estão nas bocas do mundo. Não há dia sem um webinar sobre a temática, anúncios de triliões de investimentos em projectos e tecnologias que vão mudar o planeta, ou eventos climáticos extremos que deixam regiões e populações inteiras à mercê de catástrofes devastadoras.
De facto era o único fenómeno verdadeiramente global da história recente até que a pandemia, que não deixou incólume nenhum recanto deste nosso mundo, se lhe veio juntar.
Na segunda metade de 2021 o tema da energia esteve na linha da frente, e não pelos melhores motivos. Os preços galopantes de algumas das principais commodities do sector catapultaram valores nunca antes observados, nomeadamente nos preços da electricidade nos mercados grossistas europeus.
Se é certo que os diversos analistas coincidem nos motivos conjunturais que estão na origem desta escalada de preços, é igualmente certa a extrema vulnerabilidade de uma Europa que depende do gás russo para a sua sobrevivência. E são conhecidas as tensões entre os dois blocos a propósito da Ucrânia. Neste sentido, receio que o gasoduto Nordstream 2, já técnicamente pronto, não receba ainda em 2022 as respectivas autorizações da UE para finalmente começar a desanuviar a pressão de abastecimento de gás à região. Os preços altos do Gás Natural podem pois prolongar-se mais que o desejavel.
É interessante acompanhar eventos como a COP26 em Glasgow no passado mês de Novembro, e o World Petroleum Congress em Houston umas semanas depois. Se no primeiro, foi finalmente quebrado o verniz e explícitamente referida nos documentos oficiais a necessidade de caminhar decididamente para a redução do uso dos combustíveis fósseis, no segundo invoca-se a “autoridade” de um setor (o do petróleo) que proporcionou um enorme progresso económico e civilizacional no ultimo século, para liderar agora esta nova transição energética. Vamos assistir a este confronto durante mais algumas décadas, até que o petróleo tenha substitutos adequados, nomeadamente no vasto domínio dos transportes.
É também muito curioso assistir à forma como as chamadas Majors O&G (as maiores multinacionais que exploram petróleo e gás em todo o globo) se têm posicionado frente a toda esta pressão da sociedade. Expressões como “Energia Verde”, “Neutralidade Carbónica”, passaram a integrar o léxico destas organizações. Todos olham e invocam o caso da Orsted, a companhia petrolífera dinamarquesa que há 14 anos gerava ainda a maioria das suas receitas nos hidrocarbonetos e que se converteu no lider mundial do Eólico Off Shore, abandonando totalmente as energias fósseis. É certo que o mundo não pode prescindir subitamente do seu produto e da sua energia, e o mote a que nos vão habituando é Performing while Transforming. Aliás 2021 brindou-nos um caso nada habitual neste tipo de corporações. Engine No 1, um pequeno Hedge Fund com apenas 0.02 por cento do capital da toda poderosa ExxonMobil, conseguiu 3 lugares no Board da companhia e desenvolveu uma supreendente campanha Activista que forçou uma inflexão na sua linha estratética e um tipo de compromissos ambientais nada previseis. O aviso está dado. A restantes Majors e gigantes de commodities como a Glencore, vão estar seguramente mais atentas aos seus accionistas e só podem esperar vir a ser alvo de processos similares.
Em Portugal teremos em breve eleições e iniciaremos um novo ciclo parlamentar. Independentemente da cor do governo ou das coligações que viabilizem o novo executivo, não são expectáveis reviravoltas nem reversões na política energética que o país tem traçada. Aos futuros governantes pede-se-lhes que continuem a trilhar o rumo da neutralidade carbónica com sentido de oportunidade e sustentabilidade social. Provavelmente 2022 será ainda um ano muito influenciado pelas incertezas da pandemia e do tipo de retoma económica que possibilitará. Os preços da energia, e em particular os impactos sociais nos extratos mais vulneráveis da população, será provavelmente a maior preocupação de curto prazo no futuro gabinete. E sim, é expectável que continuemos a assistir a desenvolvimentos nos filões do Hidrogénio e do Lítio, desejavelmente com concretizações que credibilizem o enorme esforço de comunicação de que têm sido objecto.
Sabemos que a transição tecnológica na energia envolve sempre disrupção e transformação da sociedade. Não creio que seja em 2022 que assistiremos a nenhum grande acontecimento ou evolução que resolva os desafios que nos estão colocados. E também não será em 2023 ou 2024. Já se percebeu que esta viagem de décadas implicará milhões de pequenos passos, em direcção a um abastecimento energético muito mais diversificado, com exigências de transformação da própria sociedade que são complexas e dificeis.
Todos estes temas serão abordados no AMEG – Advanced Management in Energy, um programa de educação executiva em parceria com a Associação Portuguesa da Energia, que visa proporcionar contexto e conhecimentos para melhor navegar os desafios da transição energética.
A visão das Áreas Académicas para 2022
Comportamento Humano na Organização
Artigo de José Fonseca Pires, Eduardo Pereira, Cátia Sá Guerreiro e Paulo Miguel Martins
Política de Empresa
Artigo de Adrián Caldart, Presidente do Conselho Académico e Responsável Académico de Política de Empresa da AESE Business School e Professor do IESE Business School