Francisco Vieira
Professor de Operações, Tecnologia e Inovação e Diretor do Programa Advanced Management in Energy | AMEG
Nunca como hoje se falou tanto de Energia e das preocupações que a actual crise gera nas pessoas e na sociedade. Não fora o tom dramático das causas (a guerra) e das consequências (preços inacessíveis) de toda esta situação que vivemos, o assunto estaria já próximo da exaustão.
Por cá, e por toda a Europa, os governantes desdobram-se em iniciativas para assegurar a garantia de abastecimento e encontrar os mecanismos mais adequados à proteção dos mais vulneráveis. Na realidade e perante a escalada de preços nos mercados, particularmente do Gás Natural e da Eletricidade, cabem basicamente 3 caminhos: (1) Intervenções administrativas em mercado, impondo tectos de preços; (2) Subsidiando os consumidores mais vulneráveis (empresas e famílias) para que possam sobreviver; (3) Política fiscal, taxando por exemplo “lucros excessivos” aos produtores que se veem desproporcionadamente beneficiados com os preço de mercado. Um pouco de tudo temos visto por essa Europa fora, sem que por ora os mercados deem tréguas. Talvez os elevados níveis de armazenagem de Gás na Europa (93%) e um inverno que dá mostras de algum atraso, se traduzam nas próximas semanas ou meses num certo alívio de preços.
“Verde” continua a ser o chavão mais brandido, mesmo em tempos desafiantes para a garantia do abastecimento e a sua acessibilidade por todos. Este trilema da energia está hoje claramente desviado para os dois ultimos pilares. Quando falta o básico agora, é mais dificil acautelar o sustentável amanhã. Um desafio que governos e cidadãos saberão com certeza encaminhar em tempos excepcionais.
A mais recente polémica é a do chamado “Corredor Verde”: o acordo tripartido Portugal-Espanha-França para o reforço das interligações energéticas entre estes países e viabilizando assim um papel mais activo da Península Ibérica no abastecimento à Europa.
Ainda com informação limitada sobre o que de facto consta do referido acordo, algumas considerações que me parecem pertinentes.
- Mercados energéticos bem interligados são em tese uma mais valia porque promovem a concorrência e melhoram a segurança de abastecimento. Se mais interligações entre Portugal e Espanha e entre este país e França não existem, é porque custam dinheiro e nem sempre são do interesse de ambas as partes.
- A narrativa veículada sobre o suposto pipeline que ligaria Sines à Alemanha, como fonte alternativa a algum do gás russo, levou alguns especialistas a manifestar publicamente o absurdo da solução, por não se enquadrar tecnicamente nas características da infraestrutura de gás natural que temos no nosso país. Certamente que ninguém estaria a advogar a construção de uma linha tipo “Nordstream”, batizada doutra forma, a custar vários biliões e com pelo menos 15 anos para por de pé.
- O acordo saído da cartola, o Corredor Verde, nada tem a ver evidentemente com isto. E pouco tem que ver com a dita fonte de abastecimento alternativa ao Norte da Europa. Espanha está sim de parabéns por ter conseguido arrancar a ferros o reforço duma interligação que nunca interessou à França. Mas agora noblesse oblige e o Presidente Macron dificilmente poderia explicar aos seus pares na Europa que não precisam do gás dos ibéricos e têm electricidade francesa qb e de origem nuclear para todas as suas necessidades.
- Portugal também está de parabéns por ter arrancado a duras penas a terceira interligação de gás com Espanha (andamos há mais de 10 anos a falar nisto). Aos nossos vizinhos nunca lhes interessou demasiados fluxos transfonteiriços porque têm do lado de lá mais 7 terminais de LNG como o de Sines (não serão exactamente iguais) e o mercado deste lado é pouco relevante.
- Viemos a saber, com surpresa, que o troço submarino entre Barcelona e Marselha, afinal não é para Gás. Ou melhor, aceita-se que será para gás agora, mas no futuro é para levar o Hidrogénio Verde produzido em Sines e noutras praças ibéricas até à Europa. Não está em causa a aposta no desenvolvimento do hidrogénio como vector energético do futuro e da necessidade de vir a estimular a procura e criar um mercado. Esta ideia peregrina de pensar que as moléculas de hidrogénio geradas em Sines ou em Almeria vão chegar a Barcelona através dos tubos por onde flui actualmente o gás natural, é simplesmente descabida.
- Ainda sem dados objectivos sobre custos e impactos futuros na tarifa do gás, a construção destes 162km da terceira interligação entre Oliveira de Frades e Zamora é o grande ganho para Portugal de todo este acordo “Corredor Verde”, por beneficiar o funcionamento do mercado, abrir oportunidades acrescidas à exportação do LNG entrado em Sines e reforçar as condições para a garantia de abastecimento em períodos de escassez.
As discussões e polémicas sobre os temas da Energia parecem às vezes demasiado verdes. Compreendo que se tratam de matérias sensíveis e no centro do desenvolvimento das sociedades, mas seria bem vindo um esforço por debates mais maduros, mais objectivos, mais informados, menos emotivos.
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