Pedro Alvito
Professor de Política de Empresa da AESE Business School e Diretor do Programa “Construir o Futuro nas Empresas Familiares”
Autor dos livros: “Um mundo à nossa espera – Manual de globalização” e “Manual de Como Construir o Futuro nas Empresas Familiares”
Talvez o maior mérito que teve o governo de Cavaco Silva, na década de 80 do século passado, foi o ter conseguido baixar a taxa de inflação louca que se vivia em 1984 em Portugal de perto de 30% para um valor abaixo dos 10% em 1988. E fê-lo seguindo uma teoria já posta em prática por Margaret Thatcher no governo de Inglaterra, mas que ninguém ainda tinha comprovado na prática a sua eficácia e que dá pelo nome de gestão de expectativas. É evidente que muitos dirão que houve outros fatores que ajudaram e que a relação entre uma coisa e a outra é dificilmente comprovável, mas o facto é que conseguiu.
Para quem já não se lembra ou não viveu a época, fê-lo de uma forma simples ao convencer a sociedade e os parceiros sociais de que a taxa de inflação ia baixar para valores próximos de 20%, 13% e 10% nos anos seguintes. E assim partiu para todas as negociações com os parceiros sociais com estes valores como teto, obtendo aumentos controlados e acabando por conseguir que a taxa fosse cumprida. Na altura fez disso um desígnio nacional. Tendo conseguido isso no primeiro ano foi mais fácil voltar a fazê-lo no ano seguinte e aí por diante.
A que propósito vem toda esta “conversa histórica”. Fico um pouco perplexo com os anúncios feitos pelos nossos governantes em Portugal, na União Europeia e até no Banco Central para o caos económico que se prevê para 2023. É a inflação que vai subir, as taxas de juro que apresentam valores de subida previamente anunciados pelo Banco Central, o crescimento económico que vai cair a pique e aí por diante. Com tudo isto e pelas razões atrás explicadas estamos a criar expetativas claras de crise, inflação, subida dos juros e contração económica.
Mas fiquemo-nos pelos números. A inflação em Portugal e em toda a zona euro recuou em dezembro ao contrário de todas as expetativas, o petróleo e o gás estão atualmente em níveis de preço inferiores ou próximos dos do início da guerra, o tão falado trigo está neste princípio do ano aos preços do início de 2022, antes da guerra, portanto.
Sabendo nós que tivemos problemas graves derivados do Covid 19 que motivou interrupções na produção de componentes tecnológicos a nível internacional e consequentemente gerou problemas na satisfação de encomendas, que, entretanto, foram na sua esmagadora maioria já ultrapassados. Sabendo também que toda a situação de alarme da guerra da Ucrânia passou infelizmente para o nível da habituação. E constatando que estas duas situações têm sido apontadas como os principais motivos da inflação em 2022 e do consequente aumento das taxas de juro, a minha questão é: o que se espera para 2023?
Não me venham com a conversa de que sou um otimista sem razões, até porque normalmente me apelidam do contrário, mas porquê esta histeria negativa que naturalmente vai gerar nas pessoas pessimismo e consequentemente, pelo efeito das expetativas, vai gerar resultados contrários àquilo que a realidade parece apresentar em todos os indicadores? Não deveriam os políticos e os economistas com responsabilidades em organismos internacionais criar expetativas mais de acordo com os indicadores, ou pelo menos serem mais cautelosos e menos alarmistas? Ou tudo isto serve apenas para se protegerem no momento presente e depois anunciar pomposamente resultados espetaculares alcançados devido a políticas de coisa nenhuma?
É evidente que, além das razões atrás apontadas, esta inflação foi altamente benéfica para muitas empresas que encontraram uma excelente oportunidade para colocar os seus preços num patamar superior capitalizando com isso os seus ganhos e gerando mais lucros como aliás se tem comprovado com vários exemplos da nossa praça. O facto é que já há preços a descer ou pelo menos a “ajustar”.
Há aqui claramente todo um mistério que a mim me custa perceber ou então como diria um amigo meu, acho que devo ter faltado a essa aula na faculdade… De facto, só me vem à ideia o célebre macaco Sócrates no antigo programa brasileiro “Planeta dos Homens” que dizia sempre no final dos sketches “Não precisa explicar, eu só queria entender!”. Um Bom Ano para todos.
Como foi possível acontecer isto?
Agostinho Abrunhosa
Diretor do Executive MBA e Professor da Área de Operações, Tecnologia e Inovação da AESE Business School
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Teaching Fellow na AESE Business School, Head of Automotive Financial Services e Membro da Comissão Executiva do no BNP Paribas Personal Finance Portugal
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Senior Vice-President and General Counsel, Honeywell International Inc., World Economic Forum
Image: Honeywell