José Ramalho Fontes
Presidente da AESE Business School e Professor de Operações, Tecnologia e Inovação
Os académicos têm uma dupla obrigação quanto ao tempo: devem estar a par do que acontece, sem se perderem no quotidiano, e terem memória para refletir serenamente sobre o passado, para poderem identificar tendências e linhas de fundo. No primeiro semestre de 2023, os meios de comunicação social voltaram a fazer referência aos melhores anos de sempre em vários ecossistemas, apesar das dificuldades estruturais ou circunstanciais, na macroeconomia e na microeconomia.
Em 2022, a AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, por exemplo, fechou o ano a exportar 22 mil milhões de euros, mais 10% que em 2021. No primeiro trimestre de 2023, registou o melhor resultado de sempre, 2,52 mil milhões de euros, um crescimento de quase 20% face a 2022, contrariamente às afirmações defensivas do início do ano.
No muito tradicional setor têxtil e da moda, as exportações fixaram-se em 2022, em 6,1 mil milhões de euros, mais 13,1% do que em 2021. No primeiro trimestre de 2023, voltou a crescer 2% em valor, segundo informação recente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.
A Portugal Fresh também fechou 2022 a faturar 2 mil milhões de euros, acima dos 1,7 mil milhões de 2021, assim como o setor do calçado, com exportações no valor de 2,2 mil milhões de euros, um novo recorde.
A Portugal Foods é um ecossistema em ampliação e robustecimento, cujo sucesso está na estratégia de integração de entidades regionais e nacionais do setor agroalimentar português, com empresas científicas e tecnológicas, e com a Portugal Fresh, com os vinhos, azeites, pescado e frutos secos, juntamente com Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA). Sublinhe-se que, no primeiro trimestre de 2023, as exportações continuaram a crescer, chegando a 2,2 mil milhões de euros, mais 15,7%.
O Health Cluster Portugal (HCP) foi fundado em 2008, com uma governação e gestão profissional robusta. No ano passado, contava com 226 associados responsáveis por exportações no valor de 2,4 mil milhões de euros, 35% acima do ano anterior. Focadas em mercados exigentes, como os EUA e a Europa, e fortemente alicerçadas nas preparações farmacêuticas, estes dados reforçaram o peso da saúde na economia nacional.
Há duas razões principais que se estão a ampliar com o passar dos tempos para este sucesso repetido. Por um lado, o efeito de escala das principais empresas que integram estes ecossistemas. Por outro, a melhoria da qualidade da gestão, como se manifesta nestes exemplos de empresas nacionais que nasceram com uma perspetiva global, implantando-se no estrangeiro para além de serem exportadores relevantes.
Exemplos para refletir
A Autoeuropa está no seu 31.º ano de funcionamento e a produzir à capacidade máxima, 890 carros por dia, com 19 turnos semanais de 5.200 trabalhadores. Em 2022, produziu 231.100 carros, o maior número de sempre. A esta produção há que acrescentar a dos seus fornecedores e das empresas que fazem parte do seu ecossistema industrial, englobados na AFIA – Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, registando-se 10 mil milhões de euros de exportações de componentes para automóveis, ou seja, mais um recorde.
Outro dado importante do último ano é o facto de nas cinco fábricas portuguesas (Autoeuropa, Stellantis, Mangualde, Fuso, Toyota Caetano e Caetano Bus) se produziram 322.404 veículos. Contas feitas, trata-se de um crescimento de 11,2% face a 2021, sendo o segundo melhor ano de sempre.
A Corticeira Amorim, pelo seu lado, é o maior grupo de transformação de cortiça do mundo e ultrapassou os mil milhões de faturação, pela primeira vez na sua história, exportando para mais de 100 mercados, através de 63 empresas, em que o seu core business, rolhas para as garrafas dos vinhos mais seletos, representa cerca de 73% da faturação.
Já a Sogrape, no seu 80º aniversário, assinalado em 2022, faturou 347 milhões de euros, em que o Mateus, como joia da coroa, representa ainda 12%, que se comparam com uma faturação de 192 milhões, em 2018, em que o Mateus representava 18%. A diferença traduz um importante crescimento orgânico e, sobretudo, a aquisição, em junho de 2020, de uma participação de controlo na empresa Liberty Wines, um distribuidor de bebidas, sedeado no Reino Unido.
A Bial, a empresa farmacêutica portuguesa mais conhecida faturou mais de 300 milhões de euros em 2022, incluindo uma faturação de 80 milhões em Espanha e investiu cerca de 80 milhões em I&D em novos fármacos e outras atividades de inovação. A Tecnimede que produz fármacos genéricos, teve uma faturação de 215 milhões de euros, exportando 44% do total. Nasceu em 1980, já a pensar no mercado global, e tendo já patenteado tecnologia de fabrico. Integradas no Health Cluster têm aumentado as suas exportações de forma significativa: por exemplo, no primeiro trimestre de 2023 o ecossistema exportou o valor 787 milhões de euros, um valor excecional explicado pelo desempenho nos EUA.
O Grupo Vigent, com origem na metalomecânica especializada, tem, hoje, duas valências relevantes. Na área original, vendeu, em 2022, cerca de 395 milhões de euros (multiplicando por três as vendas de 2019), e entrou na área da distribuição alimentar, especialmente pescado e congelados, faturando 272 milhões de euros em 2022. Este ano, espera vender 343 milhões de euros, em função de uma nova aquisição.
A estes ecossistemas temos de acrescentar o conjunto de unicórnios e grande empresas da área da informática. Feedzai, Outsystems ou Critical, por exemplo, que têm valorizações verdadeiramente impressionantes, em função das rondas de financiamento que têm realizado e que as colocam nesses patamares. Por exemplo, a Talkdesk tem uma valorização estimada de 9,9 biliões de euros (mil milhões) que compara com a Galp, 8,1 biliões; a Outsystems tem uma valorização estimada de 9,2 biliões de euros (mil milhões) muito superior à Navigator (2,2 bi) e ao Millennium (3,3 bi), segundo dados do PSI 20 de 29/6/2023.
Fonte: ECO
Regressando à macroeconomia, o ISEG, em conjunto com a CIP – Confederação Empresarial de Portugal, no Barómetro de Conjuntura Económica de junho, reforçam a estimativa de crescimento de 2,5%, em contraste com o Fórum da Competitividade, que previa, em abril, um forte abrandamento do crescimento, de 6,7% em 2022 para entre 1,25% a 1,75% em 2023, e entre 1% e 2% em 2024. Em julho, com os dados económicos do final do semestre poder-se-á conhecer qual é a opção que a realidade vai ‘escolher’ entre as duas perspetivas.
Tudo isto converge para uma realidade que o ex-presidente da AICEP, Luís Castro Henriques referiu como o desafio da década: a afirmação da marca Portugal! Depois de se ter alcançado, em 2022, um volume de exportações da ordem dos 50% do PIB, há que elaborar uma narrativa nova e bem enraizada na experiência: “É português é bom, tem alta qualidade, é inovador e é sustentável”, uma estratégia de marca que está desenhada para termos narrativas coesas em todos os ecossistemas referidos acima. Um compromisso de longo prazo, da ordem dos 10 anos, com um trabalho sistémico de empresas e organismos, bem coordenado, o que é característico dos ecossistemas.
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