29/06/2022
Refletir sobre o Mundo em 2023, num enquadramento económico sem antecedentes, foi o tema lançado aos Alumni do Programa de Alta Direção de Empresas presentes na AESE, no encontro anual, realizado a 29 de junho de 2022, em Lisboa.
A Dean da AESE, a Prof.ª Maria de Fátima Carioca, deu as boas-vindas à assistência, nomeadamente aos elementos oriundos do Porto, “no espaço PADE, um espaço de diálogo, de reflexão, network, de zoom out de temas da atualidade”.
O Prof. Pedro Ferro, Diretor do programa, sublinhou a alegria do reencontro do PADE, novamente em formato presencial, depois do período de interrupção imposto pelas medidas de sanitárias do período pandémico.
Um mundo nunca dantes visto
Manuel Rodrigues, professor de Finanças no King’s College London e Conferencista na AESE Business School, foi o orador convidado para desafiar os participantes a refletir sobre o mundo em 2023, não para cultivar “uma convergência de opiniões”, mas antes para estimular o pensamento crítico e diverso e reflectir conjuntamente com o Alumni da AESE sobre possíveis caminhos de saída para os desafios que enfrentamos.
Segundo dados apresentados pelo Professor, “ultrapassámos com sucesso a maior recessão em magnitude, durante o período do Covid 19. A resposta global enfática por parte dos Bancos Centrais, impulsionou uma recuperação económica enfática o que contrastou com a resposta dada na crise vivida em 2008-2009.
“A coordenação da resposta conjunta e sincronizada à crise pandémica mudou a direção do mundo.” Assim, foi possível “relançar a Confiança”.
O título da sessão inspira-se naquele que é o mote da próxima reunião das 20 maiores economias do mundo – G20, que irá decorrer na Indonésia em Novembro: “Recover Together. Recover Stronger ”.
A manifestação da intenção da Rússia participar no encontro do G20 na Indonésia, este ano poderá ser um sinal que a Confederação Russa também deseja “encontrar soluções conjuntas” para a Paz.
“Nos últimos 18 meses o mundo tem estado num crescimento acelerado, com tendência de abrandamento. Na verdade, na Europa, ao contrário dos EUA, a política monetária ainda é acomodatícia sem se registar até ao momento aumento das taxas de juro”.
“Contudo há riscos no horizonte dado que o mundo nunca esteve tão endividado. Nas últimas décadas o ambiente económico de baixas taxas de juro e inflação impulsionou o aumento de endividamento nas economias avançadas do Estado, Empresas e Famílias”. De facto, “o elevado padrão de endividamento representa uma grande vulnerabilidade. Conviver com este nível de endividamento com um nível alto de inflação é o grande desafio.”
Neste momento, não há alternativa a uma reversão da política monetária seja com maior gradualidade(EU) ou mais intensa (EUA).
“Um maior controlo da inflação com a subida da taxa de juro directora do Banco Central implica um maior aumento do custo de financiamento para os Países, para as Empresas e para as Famílias, uma maior quebra da actividade económica e mais desemprego”.
“Por outro lado, um menor controlo da inflação irá ter repercussão na perda do poder de compra das populações das economias, sendo que neste segundo caso será possível preservar mais actividade económica e emprego”.
“Antecipa-se a decisão com obstáculos, qualquer que seja o caminho que os Bancos Centrais venham a assumir.”
“Apesar da guerra na Ucrânia, o efeito do conflito bélico não está ainda plenamente contemplado nas actuais projeções económicas para 2022 e 2023” Em suma, “a inflação ainda não incorpora totalmente o impacto do novo contexto geopolítico.” dado que a o acréscimo da inflação depois da guerra ter iniciado é cerca de dois pontos percentuais. Assim grande parte da inflação que experiênciamos deve-se em grande parte à injeção do programa de liquidez pandémico implementada pelos bancos centrais e de escassez de matérias primas para dar resposta a um crescimento global elevado. Não podemos esquecer que o gás natural no ano passado sofreu no mercado grossista uma subida de cotação de cerca de 500%” (de acordo com dados facultados pela Bloomberg).
“A reversão da política monetária ira refrear a confiança, e irá mitigar a febre inflacionista.”
O professor acrescentou que a Federal Reserve divulgou este mês a cenário macroeconómico até 2024: Um abrandamento do Crescimento em 2023 (sem recessão) com uma estabilização da taxa diretora em 2023 em patamares muito próximos de final de 2022. Em 2023 a FED conta ter a inflação controlada já ancorada em torno dos 2,6% e iniciar já em 2024 uma redução da taxas diretora de referência. Com estas projeções a 3 anos a Federal Reserva pretende dar previsibilidade aos agentes económicos.
“Um dos riscos notado por parte da reação do Banco Central Europeu consiste no delay relativamente à Federal Reserve. A reversão da política monetária na Área Euro tem de ser acompanhada com o programa anti-fragmentação financeira com um poder de fogo muito, muito elevado (que em caso de necessidade poder intervir a recomprar dívida soberana em mercado secundário na Zona Euro). Maior o poder de fogo deste instrumento maior será a probabilidade de ele nunca ser utilizado e assim maior a sua eficácia.
O Prof. Manuel Rodrigues sublinhou que “a capacidade de recuperação das economias assentará na capacidade de investimento das empresas já que na esfera pública os Governos terão de apostar na consolidação orçamental para mitigar o já visível alargamento dos yields da dívida pública”.
Os Bancos Centrais, com um mandato de recuperar a estabilidade de preços e manter a estabilidade financeira, irão continuar a determinar o ritmo da recuperação da atividade económica a nível global.
O Professor referiu ainda a posição da China no xadrez económico global. “A função económica alinha-nos no interesse comum, independentemente das narrativas mediatizadas.” Os EUA e a União Europeia são o principal parceiro económico da China e vice-versa. Para que possamos ter um crescimento mundial harmonioso nenhum dos três blocos económicos poderá estar em recessão e todos beneficiam do crescimento recíproco.
E concluiu o debate animado com os Diretores gerais e CEOs presentes em sala que “coletivamente devemos colocar em cima da mesa como moderar o aumento de inflação e mitigar perda do poder de compra num futuro próximo. Precisamos de uma forte consciência coletiva e de desenvolver um envelope de medidas que contenha o aumento de preços, para que possamos normalizar a inflação em 2023 e não a tenhamos que a arrastar num ritmo galopante durante um período indeterminado”.