A trajetória profissional de António Martins da Costa soma cargos de elevada responsabilidade, a nível internacional.
Atualmente Administrador da EDP, realizou o PADE – Programa de Alta Direção de Empresas, na AESE, que destaca entre as várias formações frequentadas ao longo da vida.
Como líder procura “estar continuamente atento ao que o rodeia”, a conhecer os temas atuais de maior importância para o mundo corporativo e a fazer um bom uso da razão e da emoção, não descurando que a ética e estética são essenciais ao cunho pessoal com que desempenha as suas funções.
Quais os principais marcos na sua trajetória profissional, que contribuíram para chegar à posição de Administrador da EDP?
Em primeiro lugar, os académicos: a licenciatura em Engenharia Civil pela FEUP, em 1976, o MBA pela PBS, em 1989, e as diversas formações executivas que realizei, com destaque para o PADE da AESE, o AMP da Wharton Business School e, recentemente, o IDP-C do INSEAD. Se a licenciatura me deu a formação de base, o MBA permitiu-me enveredar por uma linha diferente da que tinha vindo a seguir até então, entrando no mundo da gestão, e a formação executiva revelou-se fundamental para a actualização e o desenvolvimento de novas visões.
Na vertente profissional, a mudança, após o MBA, para o Grupo Millennium BCP, que então estava a arrancar, permitiu-me chegar a Administrador da Seguros e Pensões – na época o maior grupo segurador português, detentor da Ocidental, Império, Bonança, Médis e Seguro Directo – e da AF Investimentos, à data a maior gestora de fundos de investimentos em Portugal. E, posteriormente, quando regressei à minha casa de origem, a EDP, onde fui Administrador Executivo durante quinze anos, durante os quais assumi pelouros de responsabilidades diversas nas unidades de negócio e no centro corporativo.
Mas, transversalmente a tudo isso, a minha jornada internacional foi sem dúvida o facto mais marcante, com dez anos (1999-2009) de atividade profissional e de vida pessoal na Polónia e Holanda – no período Millennium BCP – e no Brasil e EUA – no período EDP.
Quais foram as suas principais conquistas?
Destacaria três: a primeira, na forma como desempenhei, entre 1999 e 2002, a minha função de Vice-Presidente Executivo da PZU na Polónia, a maior seguradora na Europa Central e de Leste, com um valor à data de 2.500 milhões €, representando o acionista privado Eureko, holding pan-europeia, na qual o Millennium BCP participava. Em ambiente de intensas disputas institucionais entre acionistas privados e o Estado polaco – que privatizara a empresa, e que ainda mantinha aí uma posição maioritária -, consegui garantir o respeito pessoal e profissional de todas as partes envolvidas, mantendo o equilíbrio entre a defesa dos interesses da empresa e os do acionista que eu representava.
Outra, já no meu novo ciclo EDP, com a realização do IPO da EDP/ Energias do Brasil, em 2005, uma operação de grande sucesso que colocou a empresa na Bovespa, com um valor à data de quase 2.000 €, após negociações com acionistas minoritários, uma reestruturação societária e um road-show com investidores nas maiores praças financeiras internacionais. Isso valeu-me inclusivamente o prémio de Executivo do Ano, na qualidade de Presidente Executivo da empresa.
A terceira, com o sucesso da operação EDP Renováveis North America, onde fui Chairman e CEO após a aquisição pela EDP de um developer local, em 2007, conseguindo que a empresa, em dois anos, se posicionasse como o terceiro maior operador de energia renovável nos EUA, operando em 29 estados. É hoje o principal motor de crescimento do grupo EDP.
Quais as principais lições que o tornam o dirigente que é hoje?
Que o líder é aquele que tem a capacidade de estar continuamente atento ao que o rodeia, de ouvir, de aprender e de procurar informar-se. E que com isto é capaz de formar a sua própria visão sobre o propósito e o modelo de negócio da empresa que tem que gerir, de acreditar nela e de a transmitir adequadamente a todos os stakeholders, com ethos, logos e pathos, os três pilares aristotélicos da comunicação.
Igualmente relevante, a consciência e o conhecimento que o líder tem que ter sobre os temas atuais de maior importância para o mundo corporativo, como a sustentabilidade, a responsabilidade social, as boas práticas de corporate governance, a importância da gestão de risco e da compliance, bem como sobre toda a transformação tecnológica/digital que está a ocorrer.
E, numa visão mais global, ter a noção de que, se o adequado equilíbrio entre a razão e a emoção é um fator determinante para se liderar e gerir, os sentidos ético e estético são uma componente essencial do modo de pôr em prática esse princípio.
Quais os valores pelos quais se rege e que transmite às suas equipas?
Como referência, a ideia de que um negócio empresarial tem como finalidade a criação de valor para todos os seus stakeholders. Ao mesmo tempo, realçar o papel que cada um tem dentro da organização, a sua importância, e a relevância do que a empresa faz para a sociedade. E os princípios do líder, que deve saber ser exigente, mas com o nível de tolerância apropriado; saber ser o factor de suporte, o motivador, delegando, mas sem deixar de tomar decisões; saber conviver com e promover a diversidade, seja ela de género, de idade, de background, de crenças ou de capacidade individual. Liderar pelo exemplo e acreditar que uma das maiores satisfações que um líder pode alcançar é a de sentir as suas equipas a funcionarem como tal e ver o crescimento de cada um dos seus membros, ao longo do tempo.
Se pudesse recuar no tempo, o que faria diferente?
Pouco mudaria, mas talvez possa identificar duas situações. Uma, em perceber que gerir disputas é um processo de permanente negociação, onde nem sempre a razão que nos assiste é suficiente para obtermos aquilo que nos parece óbvio. Em particular, quando do outro lado há relações de poder que ultrapassam a mera lógica empresarial. São, pois, noções que só se aprendem com a experiência, ou ouvindo opiniões experimentadas.
Outra, em que, embora seja sempre desejável buscar consensos nas discussões e nas decisões a tomar em órgãos corporativos, por vezes a dissensão formal é necessária, desde que não funcione como fator de bloqueio para o bom funcionamento desses órgãos.
Profissionalmente, como se vê daqui a 5 anos?
Certamente num novo ciclo, a gerir equilibradamente as diferentes dimensões da vida: profissional, social, familiar, cultural, espiritual, entre outras. Na componente profissional, espero estar a exercer funções de NED (Non-Executive Director/ Administrador Não-Executivo), para as quais me certifiquei no programa internacional do INSEAD, onde possa aportar o meu conhecimento e experiência, nomeadamente na gestão internacional. Complementarmente, também me vejo a manter outras atividades que atualmente gosto de fazer, de entrar em debates ou realizar palestras em cursos executivos.
MyChange