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“Eficiência e ambição: as palavras-chave para o crescimento da economia portuguesa
18/04/2024
O Observatório de Economia e Finanças da AESE teve mais uma edição a cargo do conceituado economista, o Prof. Luís Cabral.
O encontro integrado no Alumni Learning Program da AESE teve o seu lugar em Lisboa, a 18 de abril de 2024.
“Porque não cresce a economia portuguesa?” foi o desafio lançado pelo orador. “Não existe uma resposta simples”. O Professor apontou algumas razões, para o facto de isso acontecer, aproveitando para apresentar um termo de comparação entre a Europa de 27 membros e os EUA. “No princípio deste século tínhamos cerca de 88% de PIB per capita, na média europeia, e neste momento temos cerca de 76%. Em relação aos EUA, passou.se de 61% para 53%. A economia portuguesa cresceu pouco e verifica-se uma divergência quer em relação à média europeia, quer em relação à economia americana, a maior economia do mundo, neste momento.” “Se pensarmos no país, nos últimos 30 ou 40 anos, verificamos um dos maiores choques de capital humano que alguma vez houve em qualquer país do mundo.” Luís Cabral entende que “o único país comparável com Portugal neste sentido é França, nos finais dos anos 60, por causa do maio de 68, que tornou o acesso livre e gratuito a todas as universidades francesas.” “Não conheço um país que tenha tido um crescimento tão rápido e tão forte em investimento de capital humano, de habilitações académicas, como Portugal teve, durante a última geração.”
“Através de iniciativas como o programa Erasmus e, em geral, por causa da revolução digital, as gerações mais novas portuguesas são muito mais internacionais”. Têm muito maior mobilidade e menos compreensão para os conflitos bélicos pelo networking que desenvolvem. Porém, isso não se traduz no PIB per capita.
“É evidente que o PIB per capita não é o único indicador da qualidade de vida e da qualidade da economia portuguesa”, todavia “tem a vantagem de ser facilmente comparável com outros países”.
Os 5 eixos de progressão da economia
Luís Cabral apontou estes fatores cujo impacto na performance económica difere nos diversos setores de atividade, condicionado também pelo intervalo de análise.
No setor da construção, o facto de praticamente não se ter construído na última década faz com que o problema dos portugueses em arranjar casa se fique a dever a uma questão de oferta. “Há procura, mas não há resposta.” O grau de regulamentação do setor é um fator inibidor que pode ser melhorado. “Há uma combinação entre a legislação europeia e a nacional muito bem-intencionada, mas que produz obstáculos ao licenciamento em construção.”
Na justiça, os processos com implicações no dia a dia das empresas têm um efeito económico mais importante do que os casos que envolvem figuras políticas. “Casos de corrupção sempre haverá”, contudo, comparativamente, à realidade internacional, Luís Cabral considera que “a justiça portuguesa encontra-se acima da média europeia, a nível de independência e de corrupção.” O mesmo não acontece com o grau de eficiência, que deixa um campo de progressão a considerar.
Em matéria de recursos, “Portugal não teve uma revolução industrial”, devido ao ouro e prata provenientes do Brasil. Luís Cabral apontou o Turismo como sendo uma fonte de recursos equivalente no século XXI, ainda que possa não estar a ser gerido da melhor maneira. “É um setor em que os postos de trabalho criados geram indicadores de produtividade muito baixos. Não obstante representar uma fração muito importante no PIB português, não é daqui que virá a solução”, mantendo-se como está. “Há um problema de ambição. Há uma componente cultural, educativa, focada no curto prazo”, que para o orador carece de escala.
Na sua opinião, o Estado tem tido um papel positivo e negativo na economia portuguesa. O Professor destaca “três facetas: o Estado Produtor, Regulador e o Distribuidor”, cada um passível de afinação. O Estado tem tido um efeito negativo na dimensão produtiva e reguladora, na medida em que absorve muitos recursos necessários à estratégia económica do país. A estrutura do Estado português favorece um conflito geracional, latente em Portugal. A segurança dos trabalhadores mais antigos, provoca a ausência de emprego para gente mais jovem.
Apresentadas as suas reflexões, a sessão foi seguida por um espaço para perguntas colocadas ao Prof. Luís Cabral por parte dos Alumni da AESE.”