Notícias > Encontro internacional na AESE
Qualidade e Inovação no setor do vinho em 20 regiões de 6 países
08/07/2022
A AESE acolheu, a 8 de julho de 2022, um encontro académico internacional com especialistas do setor do vinho. “A firm level study of the Global Wine Industry” foi o tema que trouxe a Lisboa investigadores de 20 regiões vitivinícolas de 6 diferentes países, que participaram num extenso estudo internacional sobre empresas vitivinícolas cujos resultados preliminares vieram apresentar.
O Prof. José Ramalho Fontes, abriu as sessões de trabalho como Presidente da AESE Business School o parceiro nacional do projeto, agradecendo a Nicolas Depetris, Professor da HES-SO Haute école de gestion de Genève, o seu dinamismo, resiliência e diversificada network internacional que deu consistência ao estudo e proporcionou a realização deste encontro em Lisboa. Também destacou a expertise do Prof. Fernando Bianchi de Aguiar que dirigiu a recolha e tratamento dos dados portugueses como Knowledge partner responsável da iniciativa CV3 – Criar Valor na Vinha e no Vinho. Afirmou que “é fácil compreender a importância e a prioridade dos dois tópicos do estudo, a melhoria da qualidade e os Modelos de Inovação, esperando que os resultados apresentados possam contribuir para o seu progresso.” E continuou: “a Competitividade está a crescer em todo o lado, também em Portugal, mas verifico que cada um está concentrado na sua própria área de atuação, focado apenas nos seus desafios e nos seus problemas, como se o Cristiano Ronaldo olhasse apenas para os seus pés em vez que olhar para a baliza. Neste contexto, a nossa missão primordial consiste em abrir as mentes dos executivos à coopetição, à partilha dos seus dilemas e desafios e a considerarem respostas comuns a temas como a mudança climática e os limites impostos por algumas organizações internacionais da saúde pública, por exemplo. Isto implica colocar as pessoas no centro da equação e criarmos mais e melhor valor acrescentado.”
“Um esforço de continuidade e de comparação”
Nicolas Depetris Chauvin, o principal promotor deste encontro, propôs como objetivo do Estudo a análise da dimensão global da indústria do vinho, onde se verifica uma certa concentração de empresas, em busca de escala, apesar de uma grande heterogeneidade existente entre os produtores de pequena e média dimensão. Justificou esta iniciativa porque se constata a falta de estudos comparativos entre as regiões e os países, ao nível das empresas. A sua investigação sobre o setor vitivinícola na Suíça e na Argentina esteve na origem deste “censos exaustivo a cerca de 45.000 empresas de vinhos”. O survey de base foi traduzido em 11 línguas, e abrangeu 5 áreas primordiais: o perfil da empresa, a função da produção subdividida em duas categorias de vinhos (entrada e premium), as competências das empresas e a concorrência. O quarto tópico abordava as atividades de exportação e os constrangimentos percebidos e, finalmente, o quinto, o tipo de inovação e o processo de criatividade implementado.
“Onde estamos e para onde desejamos ir?” Para Nicolas Depetris a resposta consiste num “esforço de continuidade e de comparação”. “A procura global na indústria agroalimentar mudou para produtos de alta qualidade. Na maioria das indústrias, a relação entre integração vertical e qualidade não é passível de ser observada, mas na indústria do vinho é diferente e o estudo evidencia que as empresas se integram verticalmente para se adaptarem de forma eficiente à incerteza. O fator que evidenciou essa correlação foi o modo como as empresas atuavam face à probabilidade da existência de granizos durante a fase de floração e, com base nos resultados recolhidos, constatou-se que havia uma correlação positiva entre as empresas integradas verticalmente e as que ofereciam vinhos super premium.
O caso da Argentina
Emiliano Vilanueva, Professor da Eastern Connecticut State University, apresentou os fatores de diferenciação da Argentina em matéria de exportação e não exportação de vinho”, ressaltando que a exportação deste produto é fundamental no país, onde existe uma grande instabilidade que não se pode ignorar. Verificou-se que, quanto mais as empresas vinícolas exportam, mais competitivas se tornam em termos de diferenciação de produtos e de acesso a canais de distribuição e estratégias de promoção. Estas companhias tendem a ser mais inovadoras, mais tecnológicas e abertas à exploração com novos vinhos e atividades complementares para apoiar e preservar as suas características tradicionais, relacionadas com a presença marcante do Malbec no mundo. A escala tem-se mostrado um elemento importante para criar o ambiente de cluster que permite oportunidades reais de exportação.”
O caso da África do Sul
David Priilaid, Professor da University of Cape Town, propôs uma psicométrica que combina mentalidades inovadoras com estratégias inovadoras, aplicando o framework “Blue Ocean”. A sua investigação contemplou os produtores de vinho e os gestores e observou 2 prismas: ou a redução de custos para aumento da competitividade nos preços ou o foco na Inovação para oferta de valor ao cliente. Com a referência a vários exemplos paradigmáticos, para além do Yellow Tail, da Austrália, Priilaid validou a tese do Blue Ocean que pode ser implementado em muitas circunstâncias levando as empresas a fugir dos mares vermelhos da pura concorrência dos preços.
A criação de valor para o futuro começa agora
António Manuel Vaz, Professor da AESE, apresentou a iniciativa CV3, a metodologia desenvolvida e as realizações ao longo de 2020 e 21. A nova visão para o ecossistema da Vinha e do Vinho apoia-se na identificação de potenciais áreas de colaboração entre os distintos stakeholders e na criação de um ambiente colaborativo. Especificamente, ao considerar o conteúdo de conhecimento num litro de vinho, distinguiu entre o conhecimento tácito, tradicional, e o explicito, tecnológico, que se complementam de modo relevante na qualidade dos vinhos. Abordou, segundo este prisma, a ligação crítica entre a qualidade da uva e a qualidade dos vinhos o que exige um melhor pagamento aos viticultores, o que será mais viável através da coopetição entre os agentes do setor.
Selecção da vinha em Portugal: uma abordagem diferente
O Prof. Fernando Bianchi de Aguiar, fez uma breve caracterização do setor do vinho em Portugal e explicou a estratégia corporativa da Viniportugal e os seus objetivos para a marca Wines of Portugal, que se apoia na grande diversidade de castas autóctones, no mosaico de paisagens muito variado e nosso longa experiência em fazer vinhos de lote (blends expertise), pelo que se impõe uma boa gestão da diversidade, pela preservação e seleção das nossas castas, visando em simultâneo a sua produtividade e resistência aos novos extremos climáticos, entre outros. Neste campo, deu a conhecer o trabalho da PORVID, com o seu pólo experimental fruto da colaboração de fundos públicos e privados, onde se tem realizado o levantamento do comportamento de todas as variedades no espectro nacional. Em face do risco elevado de erosão genética da vinha tem-se feito um esforço para preservar o que ainda existe, utilizando metodologias baseadas na genética quantitativa e na estatística tendo o projeto o objetivo de preservar 50 000 genótipos de 250 castas nativas, 30.000 dos quais já na coleção instalada.
Melhorar os recursos e aumentar a eficiência
Coube a Marta Fernández Olmos, Professora da Universidade de Zaragoza, “Clarificar os efeitos dos Conselhos Reguladores de Denominação de Origem na atividade exportadora”. “As nossas conclusões oferecem linhas de orientação para os gestores do setor do vinho que desejem compreender como é que os recursos internos das companhias vinícolas e as atividades e apoios proporcionados pelos Conselhos Reguladores podem melhorar o desempenho das exportações, se fortalecerem as respetivas inter-relações.
Análise comparativa do Champagne, Franciacorta e dos Espumantes Ingleses
Antoine Pinéde, investigador da HES-SO Haute école de gestion de Genève, listou as conclusões que da sua equipa no que respeita “às Estratégias das empresas do setor dos espumantes premium”, num estudo comparativo entre o Champagne, os espumantes quer da região de Franciacorta, Itália, quer do Reino Unido. Esta comparação entre o Champagne, o produtor histórico, e os produtores das regiões emergentes foi feita ao nível das diferentes áreas incluídas no questionário: a função de produção (da vinha, à adega / vinificação e pós-produção / comercialização), as capacidades da empresa (capital humano e básico, nível de concorrência e estratégias de negócios) e, por último, as práticas de exportação.
O dia de trabalho terminou com uma receção pelo Embaixador da Suíça em Portugal, Markus Alexander Antonietti, que deu a provar três vinhos brancos suíços selecionados.
No dia seguinte, os oradores foram recebidos no Palácio e na Quinta da Bacalhôa por Eduardo Medeiro, administrador da empresa.