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Vozes femininas sobre o ensino
23/01/2025
Formar as gerações futuras é uma missão nobre, repleta de responsabilidade e transformadora. Com este objetivo, a AESE desafiou três mulheres líderes no setor da educação a debater as virtudes e os desafios enfrentados neste campo. O encontro, realizado no dia 23 de janeiro no Porto, teve lugar no âmbito do AESE Women Leaders Forum (AESE WLF).
Catarina Sousa, Diretora do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, Maria Azevedo, Fundadora do Teach for Portugal, e Luísa Sá Monteiro, da Direção do Colégio Horizonte, partilharam com o público os desafios que o sistema educativo enfrenta em diferentes contextos.
Da importância do pensamento crítico e de ensinar as gerações mais jovens a questionar, à relevância do estudo para saber que questões levantar, diversos foram os tópicos abordados. Nesta conversa, a empatia, como pilar essencial de uma liderança eficaz, e o binómio colaborativo “família-escola”, enquanto relação estruturante da transformação através da educação, também marcaram presença.
Transformação: um desafio diário
Como estimular os alunos de hoje, líderes do futuro? Como ensiná-los a olhar para o outro e compreender os seus pontos de vista? Estas e outras questões intrigantes foram discutidas entre as convidadas, cujas experiências, distintas entre si, enriqueceram o debate. Em cima da mesa foram colocadas eas realidades do ensino privado misto, do ensino privado “single-sex” e do ensino público.
Catarina Sousa, Diretora do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, uma instituição de ensino privado misto, sublinha que ensinar vai muito além de “simplesmente transmitir conhecimentos”. Para ela, “é uma arte delicada e poderosa de lapidar diamantes em bruto, revelando em cada um o seu brilho único e insubstituível”. A sua visão de educação é clara: “Enquanto educadores, temos a honra e a responsabilidade de marcar os percursos das crianças que nos são confiadas. Influenciamos os seus gostos, a forma como aprendem e, mais importante, a maneira como encaram o mundo e o seu lugar nele. Esta missão vai além do simples ato de ensinar: é uma oportunidade preciosa de inspirar, transformar e ajudar cada criança a descobrir o seu pleno potencial.”
Luísa Sá Monteiro, da Direção do Colégio Horizonte, parte da premissa de que a educação tem um impacto profundo na construção individual e coletiva: “é apaixonante ter oportunidades de trabalho na área do ensino. O bem ou o mal que uma boa ou má educação, uma boa ou má aula, ou até um bom ou mau professor podem causar na vida de uma pessoa é impressionante. As ações no ensino não são apenas de um momento, mas podem influenciar o resto da vida… podemo-las até transformar ou ajudar alguém a encontrar sentido. Isto é imensamente desafiante e apaixonante.”
Por sua vez, Maria Azevedo, Fundadora do Teach for Portugal, afirma com convicção: “a educação muda realmente o mundo”, destacando as duas faces da moeda: “para pior, quando há falta de investimento ou de princípios sólidos, e para melhor, quando se potenciam ao máximo os talentos individuais em prol do bem comum. Dedicar-me ao ensino é acreditar nesse poder transformador, um aluno de cada vez.”
Prós e contras do ensino público e privado
Tomando a sua experiência, as oradoras advogaram de forma objetiva o que consideram ser os benefícios dos três formatos de ensino.
Ensino privado misto
O ensino privado apresenta várias vantagens, de acordo com Catarina Sousa, entre as quais a autonomia e a flexibilidade curricular, assim como a existência de um projeto educativo próprio. Este modelo não só responde à diversidade da sociedade, mas também permite às famílias escolherem o tipo de educação que melhor se alinha com os seus valores e objetivos. “No ensino misto, a pluralidade e a diversidade promovem um crescimento integral mais célere e equilibrado na criança, preparando-a para interagir com diferentes realidades e contribuindo para o seu desenvolvimento social e emocional. O ensino misto representa a família e a sociedade.”
Ensino privado single-sex
Luísa Sá Monteiro vê também “vantagens pedagógicas” no modelo ‘single-sex’, quer no ensino privado, quer no público. “Perante um grupo muito mais homogéneo ao nível do perfil de desenvolvimento e aprendizagem, as abordagens podem ser mais personalizadas, ajustadas a necessidades específicas, que, num contexto misto, seriam mais difíceis de implementar. Acima de tudo, num ambiente ‘single-sex’, as barreiras dos estereótipos desaparecem naturalmente. Uma rapariga pode ser a melhor aluna em Física ou Futebol, assim como um rapaz pode ser excelente a escrever poesia ou no cuidado aos outros.”
Ensino público
No entender de Maria Azevedo, o ensino público é o único que chega a todos. “Acredito que só um ensino público de qualidade, porque universal, pode mudar a realidade do nosso país.” “Apesar do bom trabalho desenvolvido por algumas instituições de ensino privado, apenas o sistema público pode ser verdadeiramente universal.” “Em Portugal, o contexto socioeconómico das crianças influencia fortemente o seu sucesso escolar, e essas condições começam antes mesmo de nascerem. Esta realidade explica, por exemplo, porque é necessário cerca de cinco gerações para que crianças de famílias com rendimentos mais baixos atinjam o rendimento médio, enquanto a média da OCDE é de quatro gerações.”
Um debate esclarecedor, no feminino
O AESE Women Leaders Forum promoveu nesta ocasião mais um debate de grande riqueza, evidenciando boas práticas e posicionamentos claros sobre a educação e a liderança. Para Luísa Sá Monteiro, é uma oportunidade de refletir sobre questões específicas do universo feminino: “são dinâmicas que desbloqueiam fragilidades e potenciam pontos fortes. A maior parte das mulheres enfrenta dificuldades nas suas relações interpessoais, muitas vezes no contexto profissional. Quando trabalhadas, estas questões podem transformar-se em pontos fortes das lideranças femininas.”
Catarina Sousa também elogia a iniciativa: “embora vejamos uma crescente presença de mulheres em cargos de liderança, é inegável que o equilíbrio entre as múltiplas funções que desempenhamos, muitas vezes em simultâneo, continua a ser um desafio. No entanto, a existência de redes de mulheres que partilham estas dificuldades e se compreendem é um verdadeiro trunfo.”
O AESE Women Leaders Forum
O AESE Women Leaders Forum é um espaço de encontro, reflexão e partilha entre profissionais e executivas, Antigas Alunas da AESE. Esta iniciativa ocorre, regularmente, em Lisboa e no Porto, em formato de almoço-colóquio, há nove anos. De mulheres para mulheres, as convidadas são líderes de referência que se destacam nas áreas económica, social, cultural e de desenvolvimento pessoal.
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